O gigante francês do setor de energia Total conhecia as consequências nefastas de suas atividades para o clima desde 1971, mas, desde os anos 1980, criou obstáculos e semeou dúvidas sobre a limitação do uso de combustíveis fósseis – diz um artigo científico divulgado nesta quarta-feira (20).

Publicada no periódico Global Environmental Change, a pesquisa revela que já em 1971 uma publicação da revista Total explicava que a queima de combustíveis fósseis levava à “liberação de enormes quantidades de gás carbônico” e ao aumento, de forma “bastante preocupante”, deste gás na atmosfera.

Ainda assim, o grupo francês de petróleo e gás não tomou qualquer medida diante destas advertências, observam os pesquisadores.

Em meados da década de 1980, outro gigante do setor, a empresa americana Exxon, por meio da IPECA, a associação da indústria petroleira voltada para o meio ambiente, desenvolve uma campanha internacional para “contestar as ciências climáticas e enfraquecer os controles sobre os combustíveis fósseis”, acrescenta o artigo.

Com a Cúpula da Terra no Rio, em 1992, e com a assinatura do Protocolo de Kyoto, em 1997, a situação começa a mudar.

“A indústria petroleira francesa para de questionar publicamente as ciências climáticas, mas continua aumentando seus investimentos na produção de petróleo e gás” e, ainda conforme os pesquisadores, continua insistindo em “minimizar a urgência (climática) e a desviar a atenção das energias fósseis como a primeira causa da mudança climática”.

Em resposta enviada à AFP antes da publicação do artigo científico, o grupo Total declarou que: “Os executivos da Total (…) reconhecem a existência da mudança climática e sua ligação com as atividades da indústria do petróleo” e que, desde 2015, têm como objetivo “serem um ator importante na transição energética”.

Um estudo de 2017 já mostrava que a petroleira ExxonMobil sabia, desde os anos 1980, que o fenômeno da mudança climática era real e estava ligado à atividade humana.