No tabuleiro da concorrida indústria de brinquedos do País, a Grow vinha algumas casas atrás das rivais. A empresa quase saiu do jogo na década de 90, decretando concordata em 1992. Ela sofreu muito com a concorrência de produtos asiáticos, assim como outras empresas do setor, porque estava acostumada a fazer suas cartadas livremente, protegida pelo muro alfandegário. A situação estava crítica e a Grow foi obrigada a mudar de estratégia. Reduziu custos via uma ampla terceirização, inclusive da linha de produção, e dinamizou o processo de licenciamento de personagens de tevê e cinema. Apesar de ainda serem necessários alguns ajustes na companhia ? pois há até a possibilidade de novas demissões, embora a empresa não comente o assunto ? os executivos da Grow acreditam que o
azul é uma questão de tempo. O dono da empresa, Valdir
Rovai, e o principal executivo, João Anagano, ficaram chateados porque o lucro não ressurgiu no balanço de 2002. Mas as
vendas, ao menos, se recuperaram. O faturamento cresceu
no ano passado, fechando em R$ 43 milhões. Em 2001, ela
faturou R$ 35 milhões. Este ano, deve crescer 10%.

Para alcançar essa meta, a empresa lançou, na semana
passada, 110 novos produtos. Os artigos foram as novidades
da marca durante a feira da Associação Brasileira dos Fabricantes
de Brinquedos, em São Paulo. Para o evento, a empresa levou também os produtos da linha popular, que chegam a ser até 35% mais baratos do que artigos similares da própria marca. Isso é possível porque, neste caso, a Grow evita o custo dos royalties de licenciamento e reduz sua margem de lucro. ?Nossa fórmula consiste em alavancar nossa operação com sucessos sazonais que aumentam muito nossa receita?, explica Gustavo Arruda, gerente de produtos da empresa. ?O risco dessa opção é não conseguir alcançar o patamar de vendas previsto?, diz um concorrente. ?Quando isso acontece, costuma ser fatal para qualquer negócio?.

Arriscando-se, portanto, numa estratégia ousada, que até desperta a atenção da concorrência, a Grow saiu-se muito bem. No ano passado, lançou jogos e brinquedos com personagens do Sítio do Pica-pau Amarelo, do ET, do Homem Aranha. Também produziu artigos com desenhos da Disney e da Turma da Mônica. Para se ter uma idéia do sucesso recente conseguido pela empresa, deve-se ter em mente a venda da boneca da Emília. Ela representou, em dois anos, a comercialização de 500 mil
unidades. ?Queremos repetir essa façanha com a nova boneca da Eliana?, afirma Arruda. A Baby Barriguinha terá uma exposição constante no programa de tevê da apresentadora e deve alcançar um volume de vendas de 100 mil unidades ainda este ano. A turma do Sítio, por sua vez, terá um reforço com a chegada do boneco Rabicó. A barriga dele pode ser usada como bolsa, tipo porta trecos.

Outros dois lançamentos promovidos na esteira do sucesso do cinema serão os quebra-cabeça do Hulk, um jogo de memória e outro de tabuleiro. A linha Hulk ainda terá um boneco que cresce de verdade, como no filme. Feito numa borracha especial, ele triplica de tamanho quando colocado na água. ?A transformação é incrível, certamente vai mexer com a imaginação da criançada?, diz Arruda. Da Disney, a cartada da Grow para este ano é o peixinho Nemo (o filme chega ao País em julho). O brinquedo é fabricado em vinil, flutua na água e será feito na fábrica de São Bernardo(SP).

É claro que entre os produtos lançados na semana passada não faltaram novidades na linha de jogos que, por sinal, é o forte da Grow desde quando foi criada em 1972. Naquele ano, a marca lançou um produto que logo se tornaria um clássico: o jogo War. O brinquedo atravessou gerações e até hoje é uma estrela da marca. Dessa vez, a investida da Grow é para vender umas 80 mil unidades do Othello. Trata-se de um jogo de raciocínio rápido (lembra um xadrez chinês) e a idéia da empresa é a de promovê-lo em campeonatos organizados em grandes cidades do País. A Grow tem como certo o sucesso do Othello entre jogadores brasileiros. Mas só as próximas jogadas dirão se a empresa fez uma cartada de vencedor.