A jovem ativista sueca Greta Thunberg descobriu cedo o impacto das mudanças climáticas e conseguiu reunir milhares de pessoas à sua causa, gerando tanto esperança com certas críticas à sua imagem.

Em menos de um ano, a simples “greve pelo clima”, organizada por esta adolescente, hoje com 16 anos, se tornou um movimento mundial e fez seu nome despontar como candidata ao Prêmio Nobel da Paz para este ano.

Por enquanto, ela viaja rumo a Nova York para participar da Cúpula da ONU sobre Ação Climática, em 23 de setembro. E como sua estrita ética ecológica não lhe permite voar de avião, ela cruza o Atlântico a bordo de um veleiro que não emite carbono.

Sua luta começou em agosto do ano passado, quando começou a faltar às aulas nas sextas-feiras para se posicionar em frente ao Parlamento sueco com um cartaz e a frase “Greve escolar pelo clima”.

A Suécia, um país pouco acostumado a greves, estava então em plena campanha eleitoral para as legislativas e os veículos de comunicação não deram muita atenção à mensagem de Thunberg.

Desde então, a adolescente, com suas características tranças longas, continuou com seu protesto semanal com diligência até sua formatura.

“Planejo continuar até que a Suécia se adapte ao Acordo de Paris sobre o Clima e isto pode levar um tempo”, disse no final de 2018 à AFP TV às portas do Parlamento.

Sua luta, batizada “Fridays For Future” (Sextas-feiras pelo Planeta) se espalhou depois por todos os continentes e milhares de jovens ativistas celebraram seus próprios protestos. Thunberg discursou perante líderes mundiais e foi capa de revistas como Time e Vogue, não sem gerar certas críticas.

“Não são obrigados a nos ouvir, afinal de contas somos apenas crianças”, ironizou durante um discurso no Parlamento francês em julho, em resposta a quem colocava em dúvida sua legitimidade para encarnar o combate às mudanças climáticas, que a tacharam de “profetisa de calças curtas” e “Justin Bieber da ecologia”.

– Família engajada –

Greta Thunberg começou a se interessar pelas mudanças climáticas na escola, quando tinha “oito ou nove anos”, contou ela à AFP.

“Meus professores me disseram que devia economizar papel e desligar as luzes. Perguntei por que e me disseram que havia alvo chamado mudanças climáticas e aquecimento global, provocados pelos humanos”, acrescentou.

Tratava-se de um conceito então desconhecido para ela, que acreditou que sendo verdade, as pessoas “não deveriam estar falando de outra coisa”.

Deixou, então, de comer carne, beber leite e comprar coisas novas a não ser que fosse “absolutamente necessário”.

Toda a família da jovem, que mora em um espaçoso e acolhedor apartamento no centro de Estocolmo, se adaptou ao seu novo estilo de vida.

Sua mãe, Malena Ernman, uma cantora de ópera que costumava viajar por todo o mundo, parou de pegar aviões e só se apresenta nos países nórdicos.

Ela, o pai de padre de Greta, Svante Thunberg – um ator que se tornou produtor – e sua irmã caçula, Beata, tomaram consciência do tanto que a questão climática a perturbava quando ela caiu em depressão aos 11 anos.

A adolescente parou de comer, começou a faltar às aulas e inclusive parou de falar.

– “Valeu a pena” –

Aos 12 anos, Greta foi diagnosticada com síndrome de Asperger, um transtorno do espectro autista.

“Meu cérebro funciona um pouco diferente, então vejo o mundo de outra perspectiva”, explicou ela à AFP.

“Sou muito direta, digo as coisas como são e quando decido fazer algo, faço sem duvidar”, acrescentou, considerando que seu diagnóstico é uma fortaleza.

A jovem ativista, que terminou o ensino médio em junho, teve que seguir seus estudos do exterior por causa das muitas viagens. Mas isto não a impediu de tirar as melhores notas em todas as disciplinas, exceto em economia doméstica e educação física.

“Se não tivesse feito greve e viajado tanto, teria tido a melhor nota em todas as disciplinas”, declarou ao jornal Dagens Nyheter em junho.

“Mas valeu a pena”, assegurou.

No final de maio, anunciou que tiraria um ano sabático para viajar à América para uma série de encontros sobre as mudanças climáticas durante vários meses.

“Temos que aproveitar para agir agora porque dentro de um ano poderá ser tarde demais”, alertou em dezembro.