Os ativistas do Greenpeace no Brasil, aqueles personagens que invadem madeireiras ilegais na Amazônia e abordam barcos baleeiros no Atlântico Sul, estão dispostos a abrir mão de quase meio milhão de dólares anuais, enviados pela sede na Holanda. Não estão loucos. Depois de oito anos no País, o Greenpeace local aposta que já tem condições de entrar nas brigas, fora da região amazônica, por conta própria. A defesa das causas ambientais no Brasil consome US$ 3,5 milhões por ano da entidade presente em 158 países. A maior parte deste total (82%) vem da contribuição dos sócios no Exterior. A defesa do meio ambiente da Amazônia absorve US$ 2,5 milhões e vai ser ainda de responsabilidade internacional. O orçamento global do Greenpeace é de US$ 150 milhões. Mas as demais causas fora desta floresta serão bancadas, a partir do ano que vem, pelos brasileiros. Isso significa a necessidade de aumentar a arrecadação entre os sócios em US$ 400 mil anuais. ?Outros lugares do mundo, como a Índia e o Sudeste asiático, precisam certamente destes recursos?, justifica o diretor-executivo do Greenpeace no País, Roberto Kishinami, em entrevista à DINHEIRO. ?Sabemos, por pesquisa, que mais brasileiros querem contribuir com organizações independentes, como a nossa. Isso quer dizer que já temos condições de financiar as campanhas de proteção ao meio ambiente que estão fora da Amazônia.?

O primeiro passo dessa mudança vai ser dado esta semana. Os ativistas do Greenpeace vão para as ruas em busca de novas adesões. A missão é dobrar até o fim do ano o número de 10 mil filiados. Estarão apoiados por uma campanha publicitária nas televisões e nas rádios. Num fim de semana, em Campos de Jordão, conseguiram 200 sócios. As filiações poderão ser feitas pela Internet (www.greenpeace.org.br). A única fonte de recursos da organização internacional é a contribuição voluntária dos filiados. O Greenpeace não aceita doações de empresas nem de partidos políticos. ?Queremos ter uma arrecadação de US$ 160 mil mensais?, acrescenta Kishinami. ?Temos potencial futuro para chegar a 50 mil sócios.?

Este ano, US$ 1 milhão está sendo destinado às campanhas fora da Amazônia. É dinheiro empregado nas denúncias de uso de substâncias tóxicas, dos riscos do lixo nuclear, em protestos contra a engenharia genética e na luta sem tréguas contra a caça às baleias e a pesca predatória no litoral do Nordeste. Os brasileiros bancam US$ 600 mil deste total. ?Os recursos da preservação da Amazônia continuarão a vir do Exterior. Seus problemas são causados por todos os países?, observa o diretor. Por ano, são desmatados 17 mil quilômetros quadrados de florestas. Boa parte da madeira vai para a Europa. Os destemidos ativistas do Greenpeace, ao que tudo indica, partem para mais um grande desafio.