O site da Gradual Investimentos amanheceu, na terça-feira 15, com um aviso em letras garrafais: “Prezados clientes, em virtude do encerramento de suas atividades de bolsa, a Gradual realizará tais operações apenas para zeragem e transferência de posições. Solicitamos gentilmente que aguarde instruções. Atenciosamente! (sic)” Sem a assinatura de Fernanda Ferraz Braga de Lima, CEO da corretora, ou de qualquer outro executivo responsável, a empresa confirmava o que o mercado financeira vinha especulando há meses nos bastidores. Em junho de 2017, DINHEIRO revelou com exclusividade como funcionava o esquema da Gradual para fraudar institutos municipais de previdência com a emissão de títulos de dívida da empresa ITS@ Tecnologia para Instituições Financeiras, que tem como sócio Gabriel de Freitas Júnior. Ele é marido e também sócio de Fernanda na corretora.

Após a reportagem da DINHEIRO ter sido veiculada, a Polícia Federal deflagrou a Operação Papel Fantasma, em julho do ano passado, para recolher documentos e apurar os crimes contra o sistema financeiro. Nessa operação, a suspeita era de uma fraude na emissão de um título de dívida de R$ 30 milhões, que foi adquirido por seis institutos municipais de previdência. Segundo a investigação, a ITS@ era uma empresa de fachada que emitiu o título privado ITSY 11. Como não tinha lastro, esse investimento nunca seria resgatado.

Denúncia: Fernanda de Lima, CEO da Gradual, e as reportagens que revelaram a fraude

Após a revelação da fraude cometida pela Gradual, Freitas Júnior ordenou a transferência desses títulos podres para outro fundo, o que manteria os papéis ocultos por 90 dias. Essas informações constam no relatório da Operação Encilhamento, realizada em abril deste ano como um desdobramento da primeira apuração. Dessa vez, os executivos da Gradual tiveram a prisão preventiva decretada e outros executivos do mercado financeiro e de gestoras de investimentos foram acusados de participar de um esquema de desvio de R$ 1,3 bilhão. DINHEIRO apurou que o encerramento das atividades na bolsa de valores foi voluntário e que não teve qualquer orientação da Comissão de Valores Mobiliários.

A Gradual, porém, não informa se manterá suas outras atividades de renda fixa e de fundos de investimento. A empresa teria 60 mil clientes e R$ 7 bilhões sob custódia. A B3 comunica que “não recebeu até o momento nenhum pedido formal de desligamento por parte da Gradual CCTVM S.A. Os clientes da corretora devem seguir as orientações que constam no site da própria corretora”. O Banco Central não se manifestou. Os executivos da Gradual, presos em 12 de abril, foram soltos 18 dias depois. Fernanda, por exemplo, é obrigada a se recolher no domicílio todas as noites e a comparecer mensalmente ao juízo. Ela teria de usar uma tornozeleira eletrônica, mas o acessório está em falta. Procurada, a Gradual não respondeu até o fechamento da edição.