O mais conhecido fundo de investimento em empresas do Brasil resolveu fazer jus à velha fama de ousadia. Criado por antigos sócios do banco Garantia, o GP já aplicou mais de R$ 3 bilhões em empresas como a Telemar, a ALL Logística e a Gafisa. Desta vez, o atrevimento é numa área que muitos investidores não querem nem ouvir falar. Num momento em que há muito mais gente interessada em vender do que comprar empresas de energia, o GP acaba de assumir a distribuidora do Maranhão, Cemar. Mais do que isso: o fundo quer aproveitar a indefinição entre as companhias de eletricidade para ir às compras. ?Já temos R$ 1 bilhão garantidos para investir. Se for preciso, conseguiremos mais dinheiro?, disse à DINHEIRO Antonio Bonchristiano, sócio do GP.

Mal assumiu a Cemar, o GP já negocia a compra de duas outras distribuidoras. Tem interesse em grupos estrangeiros deixando o País e companhias brasileiras sem caixa. Além disso, quer adquirir empresas vizinhas à do Maranhão. Companhias de Estados como o Piauí e Alagoas hoje estão sob controle da estatal Eletrobrás, mas devem ser colocadas à venda. Em todos os casos, o GP só se interessa por companhias distribuidoras ? que levam a energia diretamente às casas e empresas. ?Vamos apostar na nossa especialidade?, explicou Bonchristiano. ?Temos a experiência de administrar empresas com um grande número de clientes.? A filosofia de fundos como o GP é comprar empresas, mudar a administração, cortar custos, aumentar a lucratividade e revendê-las por um preço mais alto.

Mas, nos últimos tempos, nem fundos de risco investiam em energia. O consumo de eletricidade caiu com o racionamento, em 2001. Com dívidas em dólares, as companhias sofreram com a desvalorização do real em 2002. Acumularam prejuízos bilionários. Além do mais, os empresários se queixavam da indefinição de regras. Esse quadro começou a mudar. O BNDES liberou R$ 3 bilhões para socorrer as empresas, o governo elevou as tarifas, o consumo reagiu um pouco e começaram a sair novas regras para o setor. Há dois anos e meio estudando o setor elétrico, o GP se animou a colocar dinheiro na mesa. ?Nas distribuidoras já é seguro investir?, disse Bonchristiano. ?Dá para ganhar dinheiro.? Não é que tudo esteja bem. Há companhias, como Cataguases Leopoldina e o Grupo Rede, que ainda enfrentam sérios problemas financeiros. A novidade é que algumas empresas já estão saindo da crise. Algumas companhias, diz um analista de banco, como a CPFL e a EDP, já estudam vender ações para reforçar o caixa e investir.

Para abrir a temporada de novos investimentos, o GP levou a Cemar em condições favoráveis. A companhia do Maranhão pertencia à Pensylvania Power & Light Global, dos Estados Unidos. Mas os americanos perderam dinheiro, desistiram do negócio, deram o calote nos credores e a companhia ficou sob intervenção federal. O GP levou a Cemar por um preço simbólico, R$ 1,0. Renegociou as dívidas, de R$ 820 milhões para R$ 460 milhões, e esticou o prazo de pagamento para dez anos. ?Agora temos condições de investir de R$ 200 milhões a R$ 300 milhões com a própria geração de caixa da Cemar?, diz Octávio Pereira Lopes, sócio do GP que ficou responsável pela Cemar. ?Hoje a empresa é plenamente viável.?

Novo presidente da Cemar, Lopes se mudou para o Maranhão e cuidará da reestruturação da empresa. Enquanto isso, os outros sócios do GP continuam em busca de novos investimentos. Além do setor de energia, o GP vê boas oportunidades e quer investir em ferrovias, terminais de portos e no setor de alimentos, especialmente com a saída ou enfraquecimento de multinacionais como a Parmalat. Desde sua criação, em 1993, o GP criou três fundos de risco, com recursos de grandes investidores nacionais e estrangeiros. Com as novas oportunidades de negócios, o GP pensa em dar um passo além. ?Podemos até abrir a captação para um novo fundo de investimento?, antecipou Bonchristiano.