Embora as empresas estejam começando a dominar a nova agenda da exploração espacial, incluindo a jornada a Marte, os governos não saíram de cena – apenas trocaram a agressiva competição do passado pela estreita cooperação científica.

De acordo com o físico Adílson Oliveira, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), intensificar essas parcerias internacionais foi a única saída para o futuro da exploração espacial. “Esses novos projetos são muito mais caros e ambiciosos e nenhum governo tem recursos suficientes para bancar isso sozinho. Na época da corrida espacial, isso era orçamento militar e, por isso, havia briga política. Hoje os componentes de computadores são feitos na China, o design das naves é americano e a tecnologia para colocar em órbita, russa.”

A necessidade de parcerias é suficiente para que os países superem as tensões políticas entre eles, como ficou claro em setembro de 2017, quando os Estados Unidos e a Rússia chegaram a um acordo para construir a primeira estação espacial na órbita da Lua – uma etapa do plano para envio de missões tripuladas a Marte. Enquanto isso, a Agência Espacial Europeia (ESA) e a Rússia se uniram no programa ExoMars, que tem o objetivo de buscar vida em Marte. A primeira fase consiste em uma nave “farejadora” de metano e um módulo de pouso. A segunda fase prevê o lançamento de um veículo equipado com perfuratrizes, a ser enviado a Marte em 2020.

A Nasa e a Agência Espacial Indiana – que enviou sua nave Mangalyaan à órbita marciana em setembro de 2014 – formaram um grupo conjunto de pesquisas para aumentar a cooperação entre os dois países nas missões ao planeta vermelho.

Japão e Índia também anunciaram, em meados de novembro do ano passado, que estão montando um programa conjunto para exploração da Lua. A Agência Espacial do Japão planeja lançar uma missão de ida e volta a duas das Luas de Marte, Fobos e Deimos, no início da década de 2020. Contando com a cooperação de várias nações, a China tem planos para enviar um veículo robótico para explorar a superfície do planeta vermelho em 2020 e está trabalhando em uma missão para coletar amostras marcianas e trazê-las à Terra em 2030.

Os Emirados Árabes também estão construindo uma nave que deverá ser enviada à órbita de Marte pelos japoneses, em 2020, com o objetivo de compreender a história das transformações do clima marciano. Outros países que não tinham programas espaciais começaram a se alinhar. No dia 25 de setembro, a Austrália anunciou a criação de uma Agência Espacial Australiana. De acordo com o governo do país, o objetivo é “aumentar o interesse australiano nas estrelas, além de fornecer uma ligação com outras agências espaciais e empresas que irão lidar cada vez mais com as viagens, a exploração e a pesquisa espaciais”.

Oliveira explica que uma viagem a Marte é uma tarefa tão desafiadora e dispendiosa que, mesmo com protagonismo das empresas, o envolvimento dos governos permanece indispensável. “No momento nenhuma empresa é capaz de investir algo na escala de US$ 100 bilhões só para ir a Marte”, diz.

Brasil. De acordo com o presidente da Agência Espacial Brasileira, José Raimundo Coelho, o Brasil mantém parcerias com a China, a Índia, os Estados Unidos, a Rússia e diversos países europeus. “O setor público não deverá se subtrair dos novos desafios da exploração espacial. Por outro lado, sabemos que a evolução da área espacial, antes totalmente subvencionada pelos governos, hoje depende muito da iniciativa privada.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.