O governo federal confirmou nesta quinta-feira (25) que lançará uma operação para desalojar as centenas de embarcações ilegais de dragagem que avançam em busca de ouro pelo rio Madeira, na bacia do Amazonas, uma atividade que o vice-presidente Hamilton Mourão vinculou ao tráfico de drogas.

“A Polícia Federal e a Marinha já estão se preparando pra agir”, disse Mourão a jornalistas em Brasília.

A operação também inclui efetivos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), segundo confirmou a própria autarquia federal à AFP.

A Polícia Federal, por sua vez, não deu detalhes sobre quando e como serão essas ações, diante do risco de reações violentas, segundo a imprensa. Na quarta-feira, o jornal O Estado de São Paulo divulgou áudios atribuídos a garimpeiros ilegais que falavam em barrar a fiscalização com um “paredão” de balsas.

O Ministério Público Federal (MPF) recomendou ontem uma ação urgente e coordenada a distintos órgãos e forças, incluindo Exército e polícia, para deter a atividade ilícita no Amazonas.

Mourão, que também preside o Conselho Nacional da Amazônia Legal, órgão responsável pela proteção e o desenvolvimento da região, declarou que as atividades clandestinas de garimpo contam com o apoio de traficantes de drogas, que buscam proteger suas rotas.

“Uma das formas de se manterem é apoiando ações dessa natureza [garimpo]”, disse Mourão, em declarações citadas pelo Estadão. “Se o ouro é extraído ilegalmente, é um ativo que eles podem trocar por droga”, acrescentou.

A ONG Greenpeace sobrevoou a região na terça-feira e divulgou imagens que revelavam a presença de cerca de 300 balsas dedicadas ao garimpo ilegal no rio Madeira, mas este número ainda pode ser maior, segundo a organização ambientalista.

A atividade clandestina na região, que é de conhecimento público, se intensificou nos últimos 15 dias, depois que circularam rumores de uma suposta descoberta de ouro no leito do rio na altura do município de Autazes, a cerca de 100 quilômetros de Manaus, denunciou o Greenpeace.

As imagens mostram “o desenrolar de um crime ocorrendo à luz do dia, sem o menor constrangimento. Isso tudo, óbvio, é referendado pelo presidente [Jair] Bolsonaro, que dá licença política e moral para que os garimpeiros ajam dessa maneira”, afirmou em comunicado Danicley Aguiar, porta-voz da campanha Amazônia do Greenpeace.

Segundo o ativista, além de ser ilegal, o garimpo contamina o rio Madeira, que é o de maior biodiversidade do mundo, com ao menos 1.000 espécies de peixes identificadas.

Segundo um estudo elaborado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) junto ao Ministério Público Federal (MPF), apenas 34% das 174 toneladas de ouro exploradas no Brasil entre 2019 e 2020 têm origem legal comprovada.