Por Anthony Boadle

BRASÍLIA (Reuters) – O governo federal está preparando uma força-tarefa com Polícia Federal, Forças Armadas, Ibama, Funai e vários ministérios que lançará em breve uma operação para remover garimpeiros ilegais da reserva yanomami, disseram autoridades na terça-feira.

Mais de 20.000 garimpeiros são responsabilizados por trazer doenças, violência e fome que causaram uma crise humanitária em aldeias yanomami isoladas na maior reserva indígena do Brasil, na fronteira com a Venezuela.

O ministro da Defesa, José Múcio, disse que os militares são necessários para expulsar os garimpeiros, que estão bem armados e contam com helicópteros.

“Nós vamos prontos para enfrentá-los, tomara que não seja de um forma tão dramática, mas se for necessário sim, nós precisamos cortar esse mal pela raiz”, disse Múcio em entrevista à Band TV.

Com as tropas do Exército no solo, a Marinha patrulhará os rios e confiscará os barcos e dragas dos garimpeiros, enquanto a Força Aérea controlará o espaço aéreo e forçará os aviões suspeitos a pousar, disse ele.

O ministro da Justiça, Flávio Dino, disse nesta quarta-feira que a operação será iniciada com ações de desintrusão realizadas pela Força Aérea e Polícia Federal, conforme decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na véspera.

“Primeiro passo é a imposição de Zona de Exclusão Aérea, para coibir abastecimento de áreas de garimpo ilegal”, disse Dino pelo Twitter.

Joenia Wapichana, que se tornará em poucos dias a primeira indígena a chefiar a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), disse que Lula se comprometeu a acabar com a mineração ilegal em reservas protegidas.

Falando a jornalistas na plataforma de jornalismo amazônica Sumaúma, Wapichana disse que não poderia dar detalhes sobre a operação iminente para não alertar os garimpeiros que invadiram o território yanomami.

“Temos que deixar que as polícias organizem a operação em segredo. O recado do presidente Lula é que vai acontecer logo e não pode demorar muito”, disse.

Wapichana disse que a força-tarefa, como em ofensivas anteriores contra garimpeiros ilegais, envolverá a Polícia Federal, as Forças Armadas, o Ibama, vários ministérios e a própria Funai.

Os garimpeiros estão em busca de ouro na maior reserva indígena do Brasil. Eles poluíram as águas com mercúrio usado para separar o metal precioso, provocando uma crise sanitária entre os indígenas, dizem as autoridades.

Os garimpeiros estão cada vez mais associados a gangues bem armadas que aterrorizaram comunidades indígenas que pela primeira vez não conseguem se alimentar, resultando em desnutrição generalizada e mortes entre os 28 mil membros da etnia yanomami.

O Ministério da Saúde declarou na semana passada uma emergência médica no território yanomami, e na segunda-feira o governo ordenou restrições sobre o espaço aéreo da reserva e medidas para bloquear o tráfego fluvial em direção a garimpos de ouro.

Wapichana disse que cerca de 40 pequenos aviões voam para pistas de pouso clandestinas todos os dias com alimentos e outros suprimentos, e a ajuda da Força Aérea é necessária para interromper os voos, que o governo anterior, de Jair Bolsonaro, não fez nada para impedir, segundo ela.

Os garimpeiros usam os rios para levar maquinário mais pesado e combustível para seus garimpos, que são lagoas lamacentas onde dragam ouro em clareiras da floresta.

Estudos médicos mostram que o mercúrio usado pelos garimpeiros poluiu os rios, matando os peixes e contaminando a água da qual os yanomami dependem.

Wapichana disse que o governo agirá contra o crime organizado e os grupos financeiros que fornecem e financiam a mineração ilegal e lavam o ouro.

O ex-presidente Bolsonaro defendeu a mineração em terras indígenas protegidas, e seu governo fechou os olhos para invasões de reservas indígenas por garimpeiros e madeireiros ilegais.

Wapichana está confiante de que os militares brasileiros obedecerão às ordens de Lula para reprimir o garimpo ilegal em terras protegidas pela Constituição, apesar de muitos deles serem apoiadores de Bolsonaro.

“Estamos em uma nova era. Temos um presidente forte e responsável que teve a coragem de ir a Roraima e declarar publicamente que essa operação de expulsão dos garimpeiros tem que ser feita o quanto antes”, afirmou.

Ela disse que os responsáveis pela crise humanitária que os yanomami estão sofrendo serão punidos por negligência e talvez por cometer genocídio.

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