BRASÍLIA (Reuters) -O ministro da Justiça, Flávio Dino, afirmou nesta sexta-feira que vai aguardar até segunda-feira para dar andamento a procedimentos de extradição caso o ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres, que se encontra nos Estados Unidos, não se entregar até lá.

“Nós tivemos o anúncio, pelo senhor Anderson de que iria nos próximos dias, a contar da decretação da prisão, se apresentar. Essa apresentação não houve ainda a marcação da data. Nós vamos, claro, aguardar até segunda-feira, que essa apresentação ocorra”, disse Dino.

“Caso na próxima semana essa apresentação não se confirme, é claro que, por intermédio dos mecanismos de cooperação jurídico e internacional, nós vamos deflagrar já na próxima semana os procedimentos voltados à realização da extradição, uma vez que há uma ordem de prisão”, acrescentou.

O mandado de prisão contra Torres foi expedido pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes após a falta de atuação da segurança pública do DF em impedir os atos de invasão e depredação das sedes dos Três Poderes no último domingo.

Dino disse ainda que não há nenhuma providência em relação ao ex-presidente Jair Bolsonaro. O então presidente viajou para os EUA às vésperas do fim de seu mandato e, segundo uma fonte, deve retornar ao país até o final deste mês. Até o momento, ele não é formalmente investigado pelos atos de vandalismo de domingo, apesar de haver pedidos nesse sentido.

MINUTA

Na entrevista, o ministro afirmou que a minuta do decreto que pedia a decretação de um Estado de Defesa na sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), encontrada durante busca e apreensão na casa de Anderson Torres, mostra um nexo de causalidade entre os eventos que começam após o segundo turno das eleições e vão até o 8 de janeiro, quando houve, nas palavras dele, uma “tentativa de golpe”.

“Havia um planejamento, o documento materializa isso”, disse, ao ressalvar que ainda não é possível saber a autoria da minuta. “Há infelizmente uma congruência, uma coerência entre tudo que nós vimos.”

INTERVENÇÃO

Antes da entrevista, em solenidade de “homenagem aos envolvidos na operação de garantia da democracia” em Brasília, Dino afirmou que a decisão de Lula de decretar a intervenção federal na segurança pública do Distrito Federal não foi contra as corporações, destacando que a medida será o mais breve possível.

“A intervenção federal, decidida pelo presidente Lula, não foi um ato contra as corporações, foi um ato em apoio das corporações de segurança e de Justiça do Distrito Federal”, disse ele.

A medida decretada por Lula após os atos de invasão e depredação das sedes dos Três Poderes por bolsonaristas radicais está prevista para durar até o dia 31 de janeiro.

Na solenidade que contou com a presença do diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, o ministro da Justiça afirmou que as eleições de 2022 acabaram e que é preciso respeitar o resultado das urnas.

“Pelo amor de Deus, acabou as eleições de 2022; haverá outra em 2026”, disse. “Se nós perdemos em 2026, nós vamos respeitar democraticamente”, completou.

(Reportagem de Ricardo BritoEdição de Alexandre Caverni)

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