O ministério das Finanças do Japão anunciou nesta quinta-feira (22) uma intervenção no mercado cambial para sustentar o iene, que despencou em relação ao dólar desde março, num contexto de crescente discrepância entre as políticas monetárias americana e japonesa.

É a primeira vez desde 1998 que o Japão faz esse tipo de intervenção em favor de sua moeda. Tóquio já havia atuado em 2011, mas com o objetivo oposto: desvalorizar sua moeda em relação ao dólar, ação que havia sido acertada com os demais países do G7.

A medida foi adotada depois que o dólar atingiu nesta quinta-feira uma cotação que não era registrada em 24 anos em relação à moeda japonesa, após nova alta das taxas do Federal Reserve (Banco Central americano, Fed), seguida da manutenção da política monetária ultraflexível do Banco do Japão (BoJ).

O dólar, que valorizou em mais de 20% em relação à moeda japonesa desde o início do ano, chegou a ser negociado a quase 146 ienes hoje, mas caiu acentuadamente após a intervenção japonesa.

A moeda era negociada a 142,58 ienes às 10h40 GMT (7h40 de Brasília).

“Embora as taxas de câmbio sejam, em princípio, determinadas pelo mercado, flutuações excessivas causadas pela especulação não podem ser toleradas”, disse o ministro das Finanças, Shunichi Suzuki, a repórteres na noite de quinta-feira.

“Por isso atuamos hoje no mercado de câmbio. Continuaremos monitorando a evolução do mercado (…) e agiremos quando necessário contra flutuações excessivas”, alertou Suzuki.

Ele não especificou a extensão da intervenção e se recusou a confirmar se havia sido coordenada com Washington ou outras capitais, limitando-se a declarar que estava em “contato constante com as autoridades monetárias envolvidas”.

A intervenção japonesa foi “claramente prevista” pelos atores do mercado cambial, uma vez que o Japão tinha anunciado a sua intenção de fazê-lo caso o dólar alcançasse 145 ienes, como lembrou à AFP Alvin Tan, responsável pela estratégia cambial na Ásia para RBC Capital Markets.

O BoJ havia anunciado anteriormente a manutenção de sua política de apoio massivo à economia, caracterizada por taxas de juros negativas de 0,1% para depósitos feitos pelos bancos no instituto emissor, e assim incentivá-los a emprestar mais.

A recuperação econômica pós-pandemia é até agora muito frágil no Japão e, embora a inflação também esteja acelerando, permanece em níveis bem abaixo dos observados nos Estados Unidos e na Europa.

Foi de 2,8% anual em agosto (excluindo produtos frescos) e deve diminuir ainda mais no próximo ano, de acordo com o BoJ.