O chefe de governo espanhol, Pedro Sánchez, iniciou nesta quarta-feira (26) uma negociação com os separatistas catalães para tentar redirecionar uma crise que dura anos e da qual depende sua estabilidade no poder.

Durante mais de três horas, o governo central de Madri recebeu uma delegação catalã liderada pelo presidente regional catalão, o separatista Quim Torra.

Ninguém se iludiu sobre esse primeiro encontro, que terminou com um comunicado conjunto no qual sinalizaram para a busca de “uma solução política” para esse conflito que em outubro de 2017 levou a uma tentativa de secessão nessa rica região norte-oriental.

Os separatistas organizaram um referendo de autodeterminação ilegal e proclamaram uma república catalã que abalou a Espanha e levou os líderes catalães à prisão, ou ao exílio.

“Ainda estamos nos começando”, disse a porta-voz do governo espanhol, María Jesús Montero.

“É uma negociação complexa e, portanto, não esperamos frutos no curto prazo”, insistiu a porta-voz, pedindo soluções “criativas e imaginativas”.

O início deste diálogo é a condição de um dos dois grandes partidos separatistas – a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) – para apoiar o governo minoritário de Sánchez e, eventualmente, apoiar seu orçamento para 2020.

A aprovação das contas, que deveria permitir um aumento nos gastos sociais, daria fôlego ao chefe do Governo socialista na legislatura, com a possibilidade de estender o orçamento para os anos subsequentes.

Já um fiasco o aproximaria da convocação de eleições antecipadas, como fez em 2019 quando os separatistas da Catalunha retiraram seu apoio.

– Reforma do Código Penal –

Longe da tensão de 2017, ou mesmo de outubro de 2019, quando a sentença condenando nove líderes separatistas provocou fortes protestos na Catalunha, os dois governos encenaram cordialidade.

Os membros das duas delegações caminharam diante das câmeras pelos jardins do Palácio da Moncloa e Sánchez e Torra apertaram as mãos em frente à sede do governo, decorada com bandeiras espanholas e catalãs.

Após a conclusão, eles concordaram em se reunir mensalmente e alternadamente em Madri e Barcelona e se comprometeram a buscar “uma solução política” para o conflito “no âmbito da segurança jurídica”.

O presidente regional lamentou não ter recebido uma resposta a suas duas grandes demandas: um referendo de autodeterminação e uma anistia para os condenados e exilados pela tentativa de secessão de 2017.

“O debate aberto e a liberdade de abordagem também serviram para destacar a discrepância e a distância entre as duas partes”, disse em sua aparição.

O governo espanhol, formado por socialistas e pela esquerda radical Podemos, promete buscar o reencontro com essa região onde, em apenas dez anos, o movimento de independência passou de residual para obter apoio de quase metade da população.

Assim, eles preparam uma modificação do código criminal para reduzir a condenação do crime de secessão que poderia beneficiar os líderes separatistas condenados à prisão, incluindo o líder da ERC, Oriol Junqueras.

– A ameaça das eleições –

A política regional complica a situação do ERC, partido fundado em 1931 para defender a independência da Catalunha, em plena concorrência pela liderança nacionalista com seus aliados de governo do Juntos pela Catalunha, enquadrado no centro separatista de direita.

Dirigido de Bruxelas pelo ex-presidente Carles Puigdemont, que escolheu Torra como seu sucessor, o partido desconfia da estratégia da ERC de sustentar o governo espanhol e dessa negociação, à qual se juntou tardiamente.

Essas tensões no governo regional culminaram com Torra anunciando eleições antecipadas para este ano, embora sem especificar a data.

Nesse clima pré-eleitoral, um apoio do ERC aos socialistas ou a falta de progresso nessa negociação com Madri podem ser usados por seus rivais para tentar tirar o voto separatista mais radical.