10/03/2004 - 7:00
Nunca o dinheiro público foi utilizado com tanta eficiência e o retorno para os cidadãos chegou tão rápido. O motivo por trás dessa realidade é a tecnologia empregada em ações de governo eletrônico (e-gov), que consumiram investimentos de R$ 2 bilhões desde 2000. Cada tostão gasto gerou redução real de custos. Só o Estado de São Paulo economizou R$ 682 milhões no ano passado ao comprar quase tudo por uma bolsa eletrônica de fornecedores e pela queda nas despesas de arrecadação do IPVA. Da Receita Federal até a página da prefeitura da pequena Piraí, no Rio de Janeiro, há mais de 1 500 serviços disponíveis ao cidadão na internet. A tendência é tão expressiva que há quem compare o atual momento da administração pública brasileira ao fenômeno da década de 90 quando as instituições financeiras aumentaram a lucratividade graças aos caixas automáticos e o internet banking. ?O e-gov é a grande revolução no serviço público?, afirmou à DINHEIRO o governador de São Paulo Geraldo Alckmin, que assinou decreto determinando que todas as compras do estado sejam feitas pela rede.
A economia do governo paulista foi minuciosamente calculada em dois estudos patrocinados pela Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo, a Fapesp. O pagamento do imposto automotivo IPVA na internet e em caixas automáticos, eliminou diversos custos do processo, como o salário de cem digitadores, o aluguel do prédio em que eles trabalhavam e o material de escritório necessário. O custo por transação caiu de R$ 21 para R$ 0,66, gerando uma economia de R$ 442 milhões ? o equivalente ao faturamento anual de uma grande empresa. Outra iniciativa alvo da pesquisa foi a Bolsa Eletrônica de Compras, a BEC. Com ela, o governo informa o que precisa comprar na internet e, do outro lado, milhares de fornecedores se engalfinham para fechar a venda. Só em 2003, a economia nessa área foi de R$ 240 milhões. De acordo com a consultora de governo eletrônico, Florência Ferrer, que coordenou os dois estudos, o investimento nas duas iniciativas não passou de R$ 4 milhões. ?Os recursos são mínimos porque o mais importante é o envolvimento do primeiro escalão no projeto?, afirma a consultora.
O movimento se dissemina como um vírus de computador e abre oportunidades para empresas de tecnologia e consultoria, que gravitam em torno das companhias públicas de processamento de dados para oferecer a melhor saída pelo custo mais baixo. IBM, Unisys, Microsoft, Vesta e Stefanini possuem grandes casos de sucesso junto ao governo no currículo. Na Bahia, as escolas da região metropolitana de Salvador recebem as matrículas de alunos pela internet. A Prefeitura de São Paulo montou um portal com 35 serviços, em que o contribuinte acessa o saldo do IPTU e paga a recém-criada taxa do lixo pela rede. ?Ao alterar alguns processos podemos transferir pessoas para o atendimento direto ao cidadão nos bairros mais distantes?, diz Juliana Bertolucci, editora-chefe do portal da Prefeitura de São Paulo. Em Florianópolis, o uso da internet nas compras governamentais gerou uma economia de 30% em 2003. Em todo o Brasil, 97% das declarações de imposto são feitas virtualmente. Para se ter uma idéia do que isso representa, na Espanha esse índice é de 12% e nos Estados Unidos deve chegar a 80% só em 2007.
Com cifras tão vistosas, o Brasil tornou-se a grande atração dos eventos internacionais de e-gov e conquistou cadeira cativa entre os cinco países mais avançados nessa área. ?Os brasileiros são os mais assediados e dão as palestras mais importantes?, afirma Kátia Pessanha, gerente de vendas da IBM que esteve nos últimos encontros mundiais sobre o tema.
“A tecnologia é a vacina contra a corrupção” |
DINHEIRO ? Qual a análise que o Sr. faz do governo eletrônico? ALCKMIN ? É um dos instrumentos mais poderosos na busca pela eficiência na máquina pública. São Paulo gasta hoje R$ 4,2 bilhões em compras. No ano passado economizamos R$ 240 milhões graças a BEC e podemos chegar a R$ 600 milhões se ampliarmos o serviço. DINHEIRO – Como essa economia é obtida?
DINHEIRO – A tecnologia impede a corrupção? DINHEIRO – O Sr. pretende expandir a BEC? |