As visitas de prefeitos a Brasília se transformaram nos últimos meses em sinônimo de protestos contra o ajuste fiscal e muita choradeira. A exceção que confirma a regra apareceu na terça-feira, 19. Um grupo de 60 prefeitos sorridentes ouviu a exposição de ministros e pousou para foto ao lado do presidente da República. Foi um animado arrasta-pé por ruas largas e salões atapetados da Capital. No final, levaram para o Interior, além de cartões postais, uma fatia dos R$ 13 bilhões do Projeto Alvorada, um conjunto de 15 programas voltados para o combate à miséria em 2.318 municípios pobres.

A cifra dos R$ 13 bilhões, que quase equivale ao orçamento do Ministério da Saúde, não vai afetar em nada o programa de ajuste fiscal do governo. A verba é formada por R$ 7,4 bilhões destinados a programas dos ministérios já previstos no Orçamento, R$ 840 milhões em empréstimos internacionais e R$ 210 milhões de repasses de Estados. Outros R$ 4,8 bilhões sairão do Fundo da Pobreza, usado como bandeira pelo senador Antônio Carlos Magalhães e formado pelo aumento da arrecadação do CPMF. Juntos, os recursos serão destinados a programas já existentes como o Bolsa-Escola e o Alfabetização Solidária.

A conta e a roupagem nova para velhos programas é o que menos importa para as prefeituras. Seus titulares querem mesmo é ver logo nos cofres os recursos. De olhares atentos, os 60 prefeitos ouviram no Palácio do Planalto as explicações técnicas dos ministros Paulo Renato Souza (Educação), Waldeck Ornélas (Previdência) e Barjas Negri (interino da Saúde). Um deles era a prefeita Edneusa Pereira Ricardo, de São José da Tapera (AL). Com 28 mil habitantes, seu município já foi considerado o mais pobre do País. Agora, Edneusa espera receber um fatia dos R$ 1,3 bilhão que serão destinados pelo projeto para o saneamento básico. ?Nosso principal problema é a falta de água encanada?, dizia ela, enquanto se preparava para a fotografia ao lado do presidente Fernando Henrique. Junto a eles também estavam políticos de partidos de oposição ao governo, caso de Antônio Alves da Silva (PDT), prefeito da cidade de Juru, na Paraíba.

O Projeto Alvorada é o carro de frente dos projetos sociais do governo Fernando Henrique. Anunciado em julho do ano passado, foi lançado oficialmente na última semana em uma estratégia de reforço do lado social do governo, a dois anos do final do mandato. A idéia agora é promover encontros entre membros do governo e o grupo de prefeitos a cada 15 dias, para discussões sobre o projeto. ?É preciso que haja um grande mutirão contra a pobreza?, disse Fernando Henrique.

Luz. Os prefeitos pareciam não se importar com o fato de o programa ser identificado como uma iniciativa do governo federal. Eles pareciam ter deixado a política partidária em casa e muitos, ao final da cerimônia, procuraram Fernando Henrique para dois dedos de prosa. Estavam, afinal, entusiasmados com as projeções feitas pelo presidente, anunciadas durante o discurso. Ele fez questão de dizer que vai encerrar o mandato garantindo energia elétrica a 90% das famílias que moram no campo. Um dos projetos do Alvorada é o Renda e Desenvolvimento Socioeconômico, que pretende instalar 6 mil kits de eletrificação em escolas e postos de saúde. É de olho em estandartes como esse que os prefeitos devem voltar a Brasília daqui para frente.