O governo afegão prepara, neste sábado (10), um destacamento de tropas para tentar recuperar um importante posto de fronteira com o Irã tomado pelo Talibã, que na sexta-feira (9) afirmou controlar 85% do território.

Ontem, os insurgentes conquistaram a passagem de Islam Qala, por onde transita a maior parte do comércio com o Irã, e a passagem de Torghundi, com o Turcomenistão, consolidando uma faixa de território no norte do Afeganistão que vai do país persa no oeste até a China no nordeste.

O movimento radical islâmico, derrubado do poder no Afeganistão após a invasão dos Estados Unidos de 2001, tem aproveitado a retirada definitiva das tropas estrangeiras do país para conquistar importantes extensões de terras desde maio, principalmente nas áreas rurais.

O porta-voz do governador de Herat, província ocidental onde estão localizadas as duas passagens perdidas na sexta-feira, garantiu que as autoridades afegãs estão preparando o envio de novas tropas para recuperar a passagem de Islam Qala.

“Os reforços ainda não foram despachados para Islam Qala. Eles serão despachados em breve”, disse Jilani Farhad à AFP.

Neste sábado, centenas de membros da milícia de Ismail Khan, um senhor da guerra veterano que ajudou as tropas americanas em 2001 e que agora anuncia seu apoio ao governo contra os insurgentes, foram implantados na cidade de Herat.

As autoridades afegãs afirmam que os avanços do Talibã têm pouco valor estratégico, mas a conquista de inúmeras passagens de fronteira e áreas ricas em minerais pode encher os cofres do movimento islâmico.

Na sexta-feira, em uma entrevista coletiva em Moscou, uma delegação do Talibã afirmou controlar 85% do território afegão e 250 de seus 398 distritos, um número que não pode ser verificado de forma independente.

“Se [o Talibã] controla uma proporção tão grande do território, por que seus líderes vivem no Paquistão e não podem vir para o Afeganistão?”, questionou o porta-voz do ministério da Defesa, Fawad Aman.

O governo afegão não pode mais contar com o apoio aéreo crucial dos Estados Unidos, que em 31 de agosto deve concluir a retirada de suas tropas após vinte anos de guerra, a mais longa de sua história, segundo afirmou o presidente Joe Biden esta semana.

“Não mandarei outra geração de americanos à guerra no Afeganistão”, disse Biden, que reconheceu como “altamente improvável” que Cabul possa controlar o país inteiro.

– Washington pressiona por um acordo –

As forças governamentais controlam pouco mais do que uma porção de capitais provinciais que devem ser abastecidas e reforçadas por ar.

Ao longo desta semana, suas tropas lutaram pela defesa da cidade de Qala-i-Naw, na província de Badghis (noroeste), primeira capital provincial atacada pelo Talibã.

Na sexta-feira, o ministério da Defesa garantiu que suas forças haviam assumido o “controle total” da cidade, embora uma autoridade local tenha indicado neste sábado que os insurgentes voltaram durante a noite.

Os talibãs, por sua vez, garantiram neste sábado que haviam apreendido um distrito na província de Laghman, vizinha de Cabul.

O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, pediu na sexta-feira um aumento da pressão internacional para “chegar a um acordo político negociado” entre o governo de Cabul e o Talibã e encerrar o conflito no Afeganistão.

As negociações entre os dois lados em Doha, que começaram há um ano, estão paralisadas e o presidente afegão Ashraf Ghani acusou o Talibã de não querer negociar.

“Quando um campo quer negociar, mas o outro não quer, é justo?”, perguntou ele em um discurso neste sábado.

Por sua vez, um porta-voz do Talibã disse à AFP que eles são a favor de buscar um “acordo negociado” porque não acreditam no “monopólio do poder”.

A questão afegã também preocupa as outras duas grandes potências mundiais.

A Rússia, por meio de sua porta-voz diplomática Maria Zakharova, pediu “às partes envolvidas no conflito interafegão moderação”.

Por sua vez, a China, que anunciou neste sábado que repatriou 210 de seus cidadãos naquele país por motivos de segurança, criticou “a retirada precipitada e caótica” dos Estados Unidos.

“Os Estados Unidos estão negligenciando suas responsabilidades e deveres ao retirar suas tropas precipitadamente, deixando desordem e guerra para o povo afegão e os países da região”, disse o porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Wang Wenbin, na sexta.

burs-jds/fox/reb/dbh/eg/mr