Vender fundos de alto risco para pequenos poupadores desavisados é o tipo de irregularidade que só acontece em mercados pouco desenvolvidos como o brasileiro, certo? Errado. Um caso exatamente igual ao do Banco Boavista, que no ano passado causou prejuízos de quase 100% a pequenos investidores após a desvalorização cambial, aconteceu nos Estados Unidos. E com uma das corretoras mais tradicionais de Wall Street. A Dean Witter, incorporada em 1997 pelo banco de investimento Morgan Stanley, está sendo processada agora por um caso de mais de meia década. A acusação, da associação que representa as corretoras de ações, a Nasd, é de que a empresa vendeu, em 1992 e 1993, US$ 2 bilhões em cotas de fundos a mais de 100 mil pessoas, muitas já aposentadas. Os fundos, apresentados como opção segura porém mais rentável para quem gosta de aplicações conservadoras, acabaram causando um prejuízo calculado em US$ 65 milhões.

O braço da associação encarregado de auto-regular o mercado não aliviou: o que a Dean Witter fez, segundo a Nasd, se chama fraude. A orientação da corretora para seus representantes era a de oferecerem três fundos de renda fixa como boas alternativas para investidores de CDBs. Os fundos prometiam dobrar o capital investido em 7 a 10 anos, e ainda anunciavam dividendos durante o período bem acima dos pagos pelo Tesouro americano. O risco real, porém, nunca foi informado. Os fundos mantinham 40% dos ativos em um tipo de derivativo que despencou de preço em 1993 e 1994, quando os juros subiram nos EUA. O valor de mercado caiu à época US$ 600 milhões.

O Morgan Stanley Dean Witter alega que os cotistas que esperaram oito anos conseguiram receber de volta quase o capital investido. O problema é que muitos não estavam mais em idade de esperar tanto pelo dinheiro, poupado durante toda a vida para garantir uma aposentadoria tranqüila. Mais de US$ 550 milhões pertenciam a investidores acima de 70 anos. Havia até nonagenários.