SÃO PAULO (Reuters) -A Gol teve lucro líquido de 619,5 milhões de reais no primeiro trimestre, queda de 76,2% sobre o desempenho de um ano antes, apesar da companhia ser impulsionada no período por aumentos de tarifas e demanda forte por viagens, segundo balanço divulgado nesta quarta-feira.

A companhia apurou um resultado operacional medido pelo lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) recorrente de 1,24 bilhão de reais, mais que o dobro do resultado obtido um ano antes.

A receita líquida somou 4,92 bilhões de reais de janeiro ao fim de março, expansão de quase 53% na comparação anual.

Analistas, em média, esperavam lucro líquido de 58,1 milhões de reais e receita de 4,73 bilhões para a Gol no primeiro trimestre. A expectativa para o Ebitda era de 1,12 bilhão de reais, segundo dados da Refinitiv.

A Gol transportou 17,7% mais passageiros no primeiro trimestre ante o mesmo período do ano passado e o “yield”, indicador de preços das passagens, cresceu 32%, a 48,52 centavos de real. Já o custo medido pelo “Cask” recorrente cresceu 20,9%, a 36,35 centavos de real, puxado pela alta dos preços de combustíveis, afirmou a empresa no balanço.

VOA BRASIL

O presidente-executivo da companhia aérea, Celso Ferrer, afirmou em conferência com analistas e jornalistas que a empresa segue ainda otimista sobre a demanda por voos no Brasil, mesmo no período de baixa temporada do segundo trimestre.

O executivo comentou ainda que espera que as discussões com o governo federal em torno do programa Voa Brasil, de incentivo ao acesso a viagens aéreas pela população, podem ser concluídas neste semestre, com um possível lançamento na segunda metade do ano.

“Estamos em um período de alinhamento conceitual com o governo”, disse o Ferrer. “O alinhamento é para trazer clareza de que o conceito de liberdade tarifária permaneça e que as empresas poderão controlar seus inventários (de voos)”, afirmou o executivo.

“O objetivo é incrementar (as viagens aéreas) e não canibalizar (o mercado atual)”, acrescentou.

Na semana passada, o ministro dos Portos e Aeroportos, Márcio França, afirmou que o Voa Brasil deve entrar em vigor a partir de agosto e pode ter um limite de bilhetes por passageiro ao ano. O valor de cada bilhete seria de até 200 reais e os voos devem ser disponibilizados em horários fora do pico, durante a baixa temporada.

FINANCEIRO

A Gol terminou o trimestre com queda no fluxo de caixa líquido, que passou de 338,8 milhões de reais para 134 milhões.

A liquidez total, porém, cresceu cerca de 36%, para 4,44 bilhões de reais. No primeiro trimestre, a Gol concluiu uma operação de restruturação societária para a formação da holding Abra com a colombiana Avianca. Na transação, a empresa emitiu novos títulos de dívida e extinguiu 5,6 bilhões de reais em compromissos financeiros.

A alavancagem da Gol, medida pela relação dívida líquida ajustada sobre Ebitda, caiu de 10,1 vezes no final do primeiro trimestre de 2022 para 7,9 vezes no final de março deste ano.

Questionado sobre a aprovação na Câmara dos Deputados na véspera da Medida Provisória que desonera PIS/Cofins de passagens aéreas, Ferrer afirmou que o benefício da empresa no primeiro trimestre foi de cerca de 130 milhões de reais. Com uma eventual aprovação definitiva no Senado, a cifra no ano poderá chegar a 500 milhões de reais, valor que não está incluindo nas projeções de desempenho da empresa para o ano, disse o presidente da Gol.

A Gol terminou o primeiro trimestre com frota de 144 aviões Boeing 737, dos quais 103 NGs, 38 MAXs e 3 NGs cargueiros. Um ano antes a frota era de 142 jatos. O plano de frota da companhia prevê a devolução de quatro aeronaves NG até o final de 2023.

Segundo Ferrer, a fabricante norte-americana pode atrasar em alguns meses a entrega de algumas aeronaves neste ano, devido a dificuldades nas cadeias de fornecedores, mas que isso não deve impactar no plano de frota da Gol para este ano. “O recebimento das aeronaves estará mais concentrado de julho em diante”, disse o executivo.

(Por Alberto Alerigi Jr.)