A General Motors está no Brasil há quase um século e pode-se dizer que o ano de 2021 ficará marcado como um dos mais difíceis desde o início das operações no País, em 1925. Em meio à escassez de semicondutores, a empresa teve de assimilar a perda da liderança do mercado nacional, a saída do argentino Carlos Zarlenga da presidência da região América do Sul, além de uma greve de funcionários por questões salariais. O colombiano Santiago Chamorro, que comandou as operações no continente entre 2013 e 2016, foi incumbido de colocar a casa em ordem, mas ainda prevê dificuldades relacionadas à falta de componentes, volatilidade cambial e alta dos juros. “A situação dos semicondutores deve começar a se normalizar a partir da segunda metade de 2022”, disse o executivo à DINHEIRO. “Estou feliz de ver as nossas fábricas produzindo.”

Um fato é importante acrescentar a essa narrativa. Mesmo antes da crise de Covid-19 a marca enfrentava problemas por aqui. Tanto que em janeiro de 2019 o argentino Zarlenga disse que o “futuro” da GM na região dependeria da volta à lucratividade naquele ano, ameaçando sair do País. A pressão rendeu resultados e dois meses depois o governo de São Paulo anunciou uma proposta de redução de ICMS para o setor. Ameaçar nem sempre funciona, e a pandemia só trouxe mais estragos. Para a empresa, a suspensão da fabricação do Onix em 2021, em decorrência da falta de semicondutores, teve impacto direto nas vendas.

Isso novamente é uma parte da verdade. Primeiro porque a crise da cadeia de suprimentos atingiu também os concorrentes. Segundo, porque deixar de usar o componente em linhas mais baixas e de menos margem para manter a venda de modelos de maior valor foi uma estratégia. A decisão fez com que as vendas do Onix, então líder absoluto do mercado nacional, caíssem para a quarta posição, com 73.623 unidades comercializadas durante 2021, contra 86.455 do líder Hyundai HB20. A montadora viu escapar a liderança no País, ocupada desde 2015, e fechou o ano na terceira colocação entre automóveis e comerciais leves, com 12,26% de participação, ultrapassada pela Volkswagen (15,31%) e pela atual líder, Fiat (21,83%).

10 bilhões de reais são aplicados pela marca no brasil, com destaque para a nova montana, que será lançada em 2023

Passar por uma crise só tem uma saída. Olhar para o futuro. A GM quer a recuperação em 2022, e novamente com o Onix. Apesar de o mercado ter registrado o pior volume de vendas para janeiro nos últimos 17 anos (5.205 unidades do modelo saíram da fábrica. “O campeão de vendas Onix e a Tracker estão voltando. Tem sido uma transformação cheia de desafios, mas que demonstram uma resiliência fundamental dos negócios”, disse Chamorro. Além da retomada do Onix, lançamentos recentes são armas da bandeira para voltar à liderança. “Estamos fazendo todas as adequações da fábrica em São Caetano do Sul (SP) para receber a nova Montana”, disse. A picape deve chegar ao mercado no começo de 2023. Os investimentos fazem parte de um ciclo de R$ 10 bilhões aportado pela montadora em projetos pelo País.

Mundialmente, a companhia vai investir US$ 35 bilhões até 2025 no desenvolvimento de 30 modelos eletrificados e autônomos. Nenhum deve ser produzido por aqui. A marca vai apresentar ainda este ano a nova versão do Bolt, veículo importado 100% elétrico. O aumento da inflação, dos juros, a variação cambial e as eleições preocupam, mas Chamorro conhece o tamanho do desafio. “Esperamos crescer 2,5 pontos de participação na região na comparação com o ano passado.”