A Globo.com sempre foi motivo de preocupação dentro das Organizações Globo. Desde o início das operações em 2000, a companhia de internet nunca conseguiu alçar vôo sozinha e consumiu um considerável volume de recursos da empresa-mãe. Só no ano passado, perdeu R$ 23 milhões, segundo o balanço anual da holding do grupo, a Globopar. Diante dessa situação todo o modelo de negócios está sendo refeito. O objetivo atual é menos pretensioso do que o início, quando se acreditava que a marca seria a maior do País em sua área.

A Globo.com deseja ser o canal de distribuição mais eficaz e lucrativo de todo o conteúdo gerado dentro do grupo. Das reportagens dos jornais aos capítulos diários das novelas passando pelos programas humorísticos. ?Vamos levar para dentro da rede o padrão Globo de qualidade?, afirma Juarez de Queiroz, presidente da Globo.com desde 2002 e o responsável pelas mudanças.

Nesse novo cenário nenhum novo produto é pensado dentro da Globo sem que antes se escutem as opiniões da Globo.com. É a chamada multiplataforma, a estratégia de diversificar o conteúdo da emissora na rede, em celulares, em computadores ou em qualquer tecnologia na qual seja possível proporcionar interatividade e novas fontes de receita. Os diretores dos vários núcleos de produção estão sendo orientados a formatar seus programas com essa nova visão, que inclui ainda explorar as poten-
cialidades do comércio eletrônico. Um projeto em desenvolvimento irá montar lojas virtuais dos programas da emissora em parceria com fabricantes de eletrodomés-
ticos, móveis e equipamentos eletrônicos. Por exemplo, no caso do telespectador desejar ter em casa a geladeira da Maria Clara (a personagem da atriz Malu Mader em Celebridade, a atual novela das oito) será possível comprá-la pela internet. O mesmo pode acontecer com qualquer produto que esteja ?acidentalmente? posicio-
nado nos cenários das produções. A Globo ganhará na divisão da receita da venda com o dono do produto. Esse modelo foi aplicado com sucesso nas últimas versões do BigBrother. ?É um movimento que precisa ser acompanhado de perto porque é feito por uma grande concorrente?, afirma o presidente do provedor iG, Roberto Simões.

A Globo.com repaginada quer se amparar na banda larga para garantir o êxito da atual estratégia. A companhia avalia que teve dificuldades no início porque o seu conteúdo nunca pertenceu ao mundo das conexões de baixa velocidade. A banda larga permite, com qualidade, a transmissão de vídeos pela internet. Hoje existem no País 1,2 milhão de usuários que acessam a internet graças a conexões de alta velocidade. Ainda é pouco em relação aos 20 milhões de brasileiros conectados, mas a Globo.com avalia que o futuro pertence ao acesso rápido.

Há duas semanas, a Globo.com lançou um novo serviço, batizado de MediaCenter. Por uma mensalidade de R$ 14,90 para os não-assinantes de banda larga é possível assistir em tempo real, ou após a sua exibição, qualquer um dos programas da Rede Globo. ?É o conteúdo de qualidade que faltava à banda larga brasileira?, diz Pedro Cabral, presidente da AgênciaClick. O desafio é encontrar consumidores suficientes e interessados em pagar por este tipo de conteúdo. Juarez Queiroz não tem dúvida sobre o mercado potencial à espera da Globo.com. Mas quem está habituado aos negócios na área de tecnologia tem algumas ressalvas. ?Pergunto se essa nova estratégia é suficiente para deslanchar o negócio?, afirma um executivo de uma grande empresa que mantém relações comerciais com a Globo. Essa é a resposta que a Globo.com quer dar ao mercado nos próximos anos.

 

NOVELA E NEGÓCIOS
O comércio eletrônico será estratégico nas produções da Globo
 

Parceria:
A Globo.com pretende dividir com os fabricantes a receita sobre cada venda
Vitrine eletrônica:
Alguns produtos dos cenários serão escolhidos de acordo com o potencial de vendas
Ganhos:
Os atores terão ganhos extras com os acordos assinados entre a emissora e os anunciantes em função do novo modelo de propaganda