Ao desembarcar em Seul, na Coréia do Sul, em meio a um frio de 15 graus negativos na quarta-feira 17, o presidente Fernando Henrique retomou o processo de aproximação comercial entre o Brasil e a Ásia, interrompido com a crise na região em 1997. O desembarque em si já seria importante por ser a primeira vez que um presidente brasileiro pisa em território coreano.

Ganhou importância ainda maior por reunir frente a frente dois modelos: o coreano, voltado para exportações, e o brasileiro, ainda dependente do mercado interno. Essa diferença pontuou a conversa reservada entre FHC e o presidente da Coréia do Sul, Kim Dae-Jung, ocorrida na quinta-feira, logo depois de a comitiva brasileira ter sido saudada por uma típica festa oriental com gueixas à caráter, dançarinas com fantasias multicoloridas e frenética agitação de bandeirinhas nacionais. ?A experiência da Coréia nos interessa muito?, disse FHC.

Na troca de impressões, FHC contou a experiência brasileira de superação da crise econômica de 1999, apontou o crescimento de 4% em 2000, a taxa de inflação de 6% e o fato de 60% das exportações do País serem, hoje, de manufaturados, contra 25% de matéria-prima. Diplomático, o presidente coreano apresentou os seus. ?A Coréia cresceu 9%, a inflação foi de 2,5% e ainda tivemos saldo positivo na balança comercial?, disse Dae-Jung. Na hora do chá verde, ficou acertada a criação de um fundo bilateral para financiamento de empresas da Nova Economia, voltada para as áreas de biotecnologia e tecnologia da informação. FHC ficou impressionado com o número de coreanos conectados à Internet. ?Dos 47 milhões de habitantes, a metade tem acesso à Internet?, informou Dae-jung. No Brasil, os internautas são apenas 7,2 milhões.

Mais tarde, o presidente brasileiro ouviu uma proposta constrangedora de empresários coreanos. A Kia Motors, que teve fábrica no Brasil e fechou, pediu anistia da multa imposta pelo governo brasileiro por não ter cumprido os contratos firmados. E mais: exigiu a ampliação de 2002 para 2003 do prazo para se instalar no Brasil. De quebra, ainda pediu isenção fiscal. FHC não gostou. ?Esses pedidos não têm amparo legal. Eu não vou abrir uma exceção no regime automotivo brasileiro para atender apenas uma empresa?, disse à turma da Kia.