Um ciclo de vida de uma girafa dificilmente alcança 30 anos. Essa, especificamente, chega aos 40 em 2021. E com o desafio de recuperar energia perdida no ano passado e ainda ganhar fôlego para observar o horizonte daqui para frente. Criada em 1981, a rede de fast food Giraffas viu seu faturamento despencar no primeiro ano da crise, quando fechou a receita de 2020 com R$ 430 milhões, contra R$ 745 milhões em 2019, queda de 42,3%. Com 60% das 400 lojas no País instaladas em shoppings, impactados com a necessidade do isolamento social, o caminho para a retomada está em unidades menores, de rua, e em cidades pequenas e médias no interior do Brasil. “A pandemia acelerou esse processo. Funciona bem em municípios onde não há muitas opções de segmento de fast food”, disse Carlos Guerra, CEO do Giraffas. “É uma volta às nossas origens.” A primeira loja do Giraffas foi aberta em Brasília.

Serão pelo menos 30 novas unidades em 2020, basicamente nos modelos de conteiner, o de hamburgueria, mais enxutos e mais baratos, e as lojas tradicionais de rua. A ideia é de que unidades de shoppings representem, em cinco anos, 40% das unidades do grupo. “É possível ter opções mais rentáveis e fugir dos custos altos de um centro de compra”, afirmou. Para isso, pretende investir cerca de R$ 50 milhões neste ano, sendo R$ 25 milhões nos novos pontos, R$ 20 milhões em marketing e R$ 5 milhões em melhorias na área digital. Em 2020, foram aportados R$ 30 milhões.

O vice-presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), Alberto Serrentino, considera correto o planejamento. “O setor foi um dos mais sacrificados na pandemia e o estrago foi grande. Essa estratégia de reposicionamento da rede, com custo operacional menor, foi bem pensada.”

Com esse cenário, a perspectiva para este ano é chegar a R$ 500 milhões, que representaria queda de 20% sobre 2019, mas em franca recuperação e acima do que a rede faturou no ano passado. “Enquanto que a gente caiu 85% em abril de 2020 em relação a 2019, prevemos neste mês uma redução de até 40%. Ainda é forte, mas as perspectivas são melhores”, disse Guerra. Nesse período, o delivery mais do que dobrou e hoje representa 25% do faturamento.

A melhora, na avaliação do empresário, também está associada à aceleração do ritmo de vacinação, o que pode diminuir gradativamente a necessidade do fechamento do comércio. Mas ele reconhece que é difícil de entender a política de saúde adotada por Jair Bolsonaro. “Precisamos de pessoas que tenham alguma faculdade mental para governar. Com alguém sem equilíbrio e tolerância, não dá para esperar nada.” De fato, a girafa enxerga longe.