Antigo pomar de Damasco, Ghuta Oriental, ao redor de onde o Exército sírio reforçou suas posições em preparação para uma ofensiva terrestre, é o último reduto rebelde perto da capital e tem sofrido desde 2013 com o cerco do regime e com bombardeios que se intensificaram nos últimos dias.

– Cerco e bombas –

Em março de 2011, a guerra estourou na Síria após a sangrenta repressão às manifestações pró-democracia por parte do governo do presidente sírio, Bashar al-Assad. Muitos opositores partiram para a luta armada, alguns deles constituindo o Exército Sírio Livre (ESL).

Em julho de 2012, o ESL lançou, a partir de Ghuta, a batalha de Damasco.

Este antigo “pulmão verde”, onde os habitantes da capital passavam o final de semana, tem sido alvo, regularmente, de bombardeios aéreos e de fogo de artilharia do governo, atingindo mercados, escolas e hospitais, além de deixar muitas vítimas civis.

O regime sírio que mantém o controle sobre Damasco cercou completamente Ghuta Oriental a partir de 2013.

Desde o verão de 2017, a região deveria ser uma das “zonas de distensão” criadas como parte de um acordo entre Rússia e Irã, os principais aliados do regime, e Turquia, que apoia a oposição.

Is bombardeios têm sido diários, porém. Desde domingo, data de início de uma nova campanha aérea contra este enclave onde vivem sitiados cerca de 400.000 pessoas, 296 civis, incluindo 71 crianças e 42 mulheres, morreram nos bombardeios, e 1.400 ficaram feridos, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

Nos últimos dias, o Exército enviou reforços para as fronteiras de Ghuta, em preparação para uma “ofensiva (terrestre) que está apenas esperando autorização”, de acordo com o OSDH.

– Desnutrição –

Antes da guerra, Ghuta era uma região agrícola produtora de vegetais e frutas, incluindo damasco. Atualmente, é palco de uma séria crise humanitária.

O cerco provocou um aumento nos preços e uma escassez de commodities.

Na terça-feira, o coordenador da ONU para a ajuda humanitária na Síria, Panos Moumtzis, afirmou que os bombardeios contra civis “devem parar agora”, enquanto Washington denunciou as “táticas” do regime de “sitiar e fazer a população morrer de fome”.

Em 2017, a ONU já havia condenado a “privação deliberada de alimentos para os civis” como uma tática de guerra, após a publicação de fotografias “chocantes” de crianças esqueléticas no leste de Ghuta.

E o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) ​​denunciou a pior crise de desnutrição desde o início da guerra em 2011, com 11,9% das crianças menores de cinco anos sofrendo de desnutrição grave, contra 2,1% em janeiro.

Nesta quarta-feira, o Unicef considerou que “nenhuma palavra fará justiça às crianças mortas, às suas mães, a seus pais e àqueles que são queridos por eles” na região.

Para o embaixador francês na ONU, François Delattre, “Ghuta Oriental é um lugar digno da Idade Média”.

– Gás e asfixia –

Nas últimas semanas, o governo Al-Assad foi acusado de lançar vários ataques químicos em Ghuta Oriental.

Em 22 de janeiro de 2018, o OSDH relatou 21 casos de asfixia na cidade de Duma, com moradores e fontes médicas falando de um ataque com gás de cloro.

Em 13 de janeiro, um ataque semelhante visou aos arredores de Duma, de acordo com o OSDH, que falou em “sete casos de asfixia”.

Em 5 de fevereiro, a embaixadora dos Estados Unidos nas Nações Unidas, Nikki Haley, disse que havia “evidências claras” para confirmar o uso de cloro nos ataques no leste de Ghuta.

Já em agosto de 2013, o regime foi apontado como responsável por um ataque com gás sarin no leste de Ghuta e em Muadamiyat al-Sham, outro reduto da rebelião perto de Damasco, onde 1.429 pessoas, incluindo 426 crianças, haviam sido mortas, de acordo com os Estados Unidos.

A assinatura de um acordo entre EUA e Rússia sobre o desmantelamento do arsenal químico sírio evitou “in extremis” ataques previstos por Washington e por Paris contra o regime.