Eles só pensam em dinheiro, muito dinheiro. Juros, câmbio e bolsa são as palavras de ordem do seu dia-a-dia. Aumentar a rentabilidade dos investimentos é a meta. Os gestores ou administradores de recursos financeiros lidam com cifras que podem passar dos milhões. E têm a responsabilidade de acertar a estratégia das aplicações dos seus clientes. Com tanto conhecimento do mercado financeiro, como esses profissionais se comportam na hora de cuidar do próprio bolso? Não há regra. Alguns viram verdadeiros especuladores, buscam rentabilidade nas oportunidades ocasionais do mercado financeiro. Outros fazem um portfólio típico de investidores conservadores.

José Roberto Salgado, 40 anos, diretor do Banco Rural, conhece bem os mercados internacionais. A sua jornada de trabalho inclui constantes viagens às cinco subsidiárias do banco no exterior. Acompanha diariamente as informações financeiras norte-americanas e européias, mas na hora de investir prefere aplicar em imóveis no Estado de Minas Gerais. ?Sou bem mineiro, um conservador nato. Evito correr riscos?, afirma. Salgado concentra 60% do seu portfólio em casas populares, 30% em renda fixa, mais precisamente nos papéis do Tesouro nacional. E apenas o restante vai para as ações. Essa foi a fórmula encontrada para administrar os seus próprios negócios de uma maneira mais simples, com baixo risco a longo prazo e boa liquidez. ?Os investimentos em renda variável exigem um certo tempo de dedicação para definir bem as estratégias e eu não tenho essa disponibilidade para cuidar dos meus negócios?, explica o diretor do Banco Rural.

Já para o economista Luís Eduardo Pinho, gestor de fundos off-shore da Sul América Investimentos, imóvel é ?carta fora do baralho? dos seus investimentos. Todas as suas aplicações são concentradas em ativos financeiros. ?Tento tirar proveito do meu conhecimento técnico?, justifica. Formado em economia e com pós-graduação em administração de empresas, Pinho confessa que acha difícil investir no mercado imobiliário. No seu portfólio, a previsão de retorno das aplicações sempre é para longo prazo. Não se preocupa em obter lucros imediatos. Portanto, não altera as estratégias em função dos projetos pessoais. Não é do tipo que aplicaria em fundo cambial, visando uma viagem ao exterior. Mas não resiste à tentação de arriscar em alguns investimentos mais ousados, como os derivativos. ?Fico atento às boas oportunidades ocasionais?, acrescenta.

Foi nessa onda de aplicar nos investimentos da ?moda?, aqueles que prometem grandes rendimentos em função apenas de uma determinada situação econômica do momento, que Marco Antônio Fiori, de 43 anos, diretor da Corretora Atrium, perdeu muito dinheiro pela primeira vez. Todo seu conhecimento técnico e experiência não foram suficientes para isentar os seus investimentos no mercado de derivativos dos prejuízos causados pela desvalorização cambial, em 98. ?Os ganhos foram rápidos, mas não passou de uma ilusão. O final foi terrível?, lembra Fiori. Atualmente, ele é um investidor do tipo moderado. Faz questão de calcular os riscos na ponta do lápis. Os fundos de ações fazem parte da sua carteira, mas ele exclui aqueles que fazem alavancagem ? investem acima do patrimônio. Pensando no futuro, compra papéis de empresas tradicionais pagadoras de dividendos. Dessa forma, planeja a sua previdência privada.

É claro que entre os profissionais de finanças não poderia faltar o especulador. Gabriel Coutinho Jafed, de 29 anos, diretor de gestão de recursos da Clickinvest, altera sempre a composição do seu portfólio em função das oscilações do mercado. Fica atento a chances de ganhos rápidos. Aceita fácil colocar o seu patrimônio em risco em troca da possibilidade de bons rendimentos. Por isso, aposta nos investimentos mais arriscados, como a bolsa de valores e mercados futuros. Mantém uma parte irrisória em renda fixa, para ter caixa. ?Com a rapidez que tenho as informações, consigo prever a tendência do mercado e alterar rapidamente uma posição de compra de um determinado ativo para a venda?, exemplifica. No entanto, a técnica administrativa é facilmente desprezada na administração dos gastos do dia-a-dia. Jafed jamais confere extratos bancários e contas de consumo.

Acompanhar o sobe-e-desce da Nasdaq, bolsa eletrônica americana, faz parte da rotina de Bob Wollhein. Ele sabe de cor ações que subiram e caíram nos últimos meses. No comando da incubadora Ideia.Com, ele gerencia recursos de investidores estrangeiros e nacionais da ordem de US$ 1,5 milhão aplicados em oito empresas de Internet, negócio ainda considerado de risco. Projetos inusitados e ousados são os favorecidos. Em contrapartida, na hora de administrar o seu próprio dinheiro, Wollhein passa longe das turbulências da Nova Economia. Parece ironia, mas utiliza até mesmo a velha e conhecida caderneta de poupança. Foge das novidades da indústria de fundos. ?Administro meu dinheiro infinitamente pior do que o meu negócio?, afirma. Na hora de investir, o presidente da Ideia.Com segue as sugestões do gerente de banco, desde que sejam em renda fixa. Para facilitar o controle do próprio dinheiro, opta por aplicações vinculadas a conta corrente. Tem ações, mas nunca se aventurou no mercado acionário. Ex-funcionário da StarMedia, ele recebeu papéis da empresa. ?Me recuso a transformar a administração do meu dinheiro em um negócio. Busco aumentar os rendimentos no próprio trabalho?, justifica.

Fora a obrigatoriedade de diversificar as aplicações, essas diferentes maneiras de administrar os recursos próprios mostram que mesmo os experts no assunto não abrem mão de considerar os seus estilos de vida para montar as suas carteiras de investimento. Confirmando a teoria de que não existe regra para enfrentar as turbulências do mercado.