Há basicamente duas formas de uma empresa se comunicar com o mercado: ou ela fala por si ou cria condições para que outros agentes de mercado falem por ela. Ambas legítimas e necessárias, mas na segunda forma há um acréscimo de legitimidade diretamente relacionado à autoridade do agente que fala. Foi esse o caminho escolhido pelo time da Usina São Manoel para divulgar suas práticas ESG (ambiental, social e de governança).

Fundada em 1959 e com uma estrutura de governança corporativa estruturada há 20 anos, o grupo sucroenergético viu nas certificações uma maneira de melhorar a gestão interna, ao mesmo tempo em que dá ao mercado a garantia de que suas ações estão sendo auditadas por terceiros. Assim acumula selos que atestam seu compromisso com boas práticas de produção (Bonsucro e GMP+B2), de segurança de alimentos (FSSC 22000), de inventário de emissões de gases de efeito estufa (GHG Protocol), de compromisso com a economia de baixo carbono (Renovabio e Etanol Mais Verde) e de responsabilidade social (Empresa Amiga da Criança). Todo esse processo de governança foi coroado em agosto deste ano com a primeira emissão de CRA Verde da companhia.

A captação de R$ 100 milhões em papéis carimbados é significativa. Para se encaixar na certificação verde do Climate Bonds Initiative (CBI) uma emissão de dívida para uma unidade de produção agrícola precisa cumprir requisitos no campo da mitigação de emissões de gases de efeito estufa e da resiliência climática e operacional. Em outras palavras, uma empresa só consegue acessar esse tipo de capital com sucesso ao se comprometer com metas sustentáveis com garantia de que medirá os resultados e os apresentará de maneira transparente aos investidores. “Governança é a habilidade de se pautar por processos, isso é um grande treino para quem quer ser competitivo, sobretudo em um mercado de commodities”, afirmou Pedro Dinucci, presidente do Conselho de Administração.

Os recursos serão usados em renovação de canavial para a produção de etanol e estão atrelados a um compromisso formal: até julho de 2027, a usina precisará reportar detalhes da aplicação dos recursos e o resultado ambiental obtido. Serão avaliados o mix entre açúcar e etanol definido em cada safra, a geração elétrica, emissões de gases poluentes, evidências de que a cana não vem de área desmatada, entre outros fatores. A Sitawi Finanças do Bem auditou o processo, que foi conduzido pelo BTG Pactual.

Uma análise do resultado financeiro da empresa torna ainda mais evidente que a escolha por mudar o perfil da dívida foi motivada por boas práticas de governança. Com receita de R$ 670,3, 30,9% a mais do que em 2020; Ebitda de 68%
(R$ 450 milhões); e R$ 113 milhões de caixa livre, a Usina tinha recursos próprios e apoio de 13 bancos para financiar qualquer projeto. “Foi uma decisão estratégica para garantirmos diversificação e uma bancabilidade ainda maior para os próximos anos”, disse Dinucci. Dentro da companhia ainda há outros R$ 214 milhões atrelados às questões ambientais. Os recursos são fruto de empréstimos com o International Finance Corporation — uma das instituições mais exigentes em níveis de governança — e como o Agri3 Fundo da ONU, em parceria com o Rabobank, cujo objetivo é melhorar o nível de vida em países em desenvolvimento por meio de empresas engajadas com o tema.