Da noite para o dia aproximadamente US$ 40 bilhões simplesmente desapareceram. Essa é a quantidade de dinheiro perdida por aqueles que investiram em Luna e Terra, duas criptomoedas. Ambas foram fundadas pelo empresário de tecnologia sul-coreano Do Kwon, de 30 anos. O valor supera o PIB de alguns países como Honduras, El Salvador ou Bolívia.

Sua história é parecida com a de muitos jovens prodígios que chegam ao Vale do Silício, nos Estados Unidos, com a ideia de criar a próxima grande inovação que vai revolucionar o mercado.

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Kwon estudou ciência da computação na renomada Universidade de Stanford nos EUA e trabalhou como engenheiro de software na Microsoft e na Apple até fundar a Anyfi, empresa de tecnologia dedicada ao desenvolvimento de alternativas de conectividade.

Mas a criação que o tornou mundialmente famoso veio em 2018, quando ele fundou a Terra Labs, uma desenvolvedora de software com sede em Cingapura. Do Kwon cofundou a startup com Daniel Shin com o objetivo de construir sistemas de pagamento baseados em uma tecnologia conhecida como blockchain.

Na época, o empresário alegou que estava criando um “sistema financeiro moderno” que os usuários poderiam usar sem precisar recorrer a bancos ou outros intermediários. Assim, ele entrou no mundo das criptomoedas e conquistou o apoio de grandes empresas como a Binance, que acreditaram no potencial do projeto.

A revista Forbes o considerou um dos jovens profissionais de maior sucesso no mundo da tecnologia. O mundo logo parecia estar aos pés do empresário. Sem qualquer humildade, Do Kwon chamou sua criptomoeda Luna de “minha maior invenção” e elogiou as qualidades da moeda digital, que ele acredita ter o potencial de “mudar o mundo”.

Kwon rapidamente ganhou a confiança de um seleto grupo de investidores. Sua empresa levantou bilhões de dólares de grandes capitalistas de risco para financiar os projetos.

Em pouco tempo, ele ganhou respeito nos mercados e convenceu muitos “pesos-pesados” de sua arriscada aposta de negociação, baseada em algoritmos criados em laboratório. Ao contrário do bitcoin, cujo criador é desconhecido e possui um sistema que funciona sem uma “cara” para buscar financiamento, as “kwon coins” – como são chamadas no ambiente de criptomoedas – estão diretamente ligadas a um indivíduo.

Entre os proponentes do projeto estava o CEO da Galaxy Digital, Mike Novogratz, que anunciou seu apoio fazendo uma tatuagem alusiva à Luna.

A explosão atingiu tais proporções que em abril deste ano, Kwon postou uma mensagem no Twitter dizendo que batizou a filha recém-nascida de Luna. “Minha criação mais valiosa tem o nome da minha maior invenção.”

A confiança de alguns grandes investidores no empresário chegou a tal ponto que o apresentador do podcast Mission: DeFi avaliou que um “culto à personalidade” havia sido criado em torno de Do Kwon.

Tudo parecia estar funcionando bem até que os críticos começaram a alertar que a criação de Kwon vista por alguns como uma obra de gênio e por outros como uma intriga fraudulenta poderia desmoronar a qualquer momento.

E foi o que aconteceu. O mercado perdeu a fé na fórmula algorítmica de Kwon em meio à queda dos preços das criptomoedas e más notícias econômicas. Luna perdeu todo o seu valor (caiu de US$ 118 para US$ 0,09) e a terra desabou com ela.

A queda brutal de ambas as moedas causou pânico entre os investidores, que iniciaram uma venda maciça de criptomoedas, levando a um declínio geral do setor.

Grandes investidores perderam bilhões de dólares sabendo do risco que estavam correndo, pois têm um exército de analistas e criptógrafos que examinam minuciosamente cada investimento.

O maior problema, como sempre, foi acabar nas entranhas dos pequenos investidores, pessoas que, sem entender os meandros dos algoritmos, estão depositando sua confiança (e investimentos) no que teoricamente lhes dá dinheiro fácil.

Em um fórum na rede social Reddit, alguns usuários postaram suas dificuldades e até compartilharam telefones de prevenção ao suicídio. Um homem desesperado foi preso por visitar a casa de Do Kwon logo após o crash da criptomoeda.

Outros, no entanto, ficaram ricos em vez de perder dinheiro retirando investimentos antes do colapso. Por exemplo, Martin Baumann, cofundador da CMCC Global, uma empresa de capital de risco com sede em Hong Kong, disse que vendeu as moedas em março por cerca de US$ 100 a unidade, de acordo com uma reportagem do New York Times.

Embora pareça difícil de acreditar, há poucos dias Do Kwon anunciou o lançamento de uma versão 2.0 do Luna. Mas agora o empresário decidiu manter um perfil discreto e não fala mais publicamente.

Isso pode estar relacionado aos processos judiciais que algumas das vítimas do colapso da moeda gêmea trarão. Ou talvez porque ele esteja tentando usar uma estratégia diferente desta vez.

No entanto, nos poucos dias de vida de Luna 2.0, os resultados sugerem que desta vez será muito mais difícil convencer o mundo de sua genialidade.