O desafio foi lançado ao estilo de um guru. Na terça-feira 3, terceiro dia do Oracle Openworld ? evento realizado anualmente pela maior provedora de softwares para transações de comércio eletrônico ?, o fundador e principal executivo da empresa, Larry Ellison, proferiu: as empresas que substituírem seus bancos de dados Microsoft ou IBM pelas soluções Oracle vão triplicar a velocidade do website. E o mais chocante: se a promessa não se concretizar, Ellison pagará ao cliente insatisfeito US$ 1 milhão. A declaração foi uma provocação explícita aos seus maiores concorrentes e causou risos e aplausos efusivos da platéia, que acompanhava o show de luzes e de imagens nos seis telões high tech no Moscone Center, em São Francisco. De acordo com o instituto de pesquisas americano IDC, o banco de dados da Oracle ? que permite armazenar, cruzar e recuperar informações via Internet ? foi o líder de mercado no ano passado, com 42% das vendas. A IBM veio em segundo lugar com 20% e a Microsoft em terceiro, com 8%. Agora, o passo seguinte da Oracle é popularizar ainda mais suas ferramentas de comércio eletrônico e gestão de negócios pela rede. ?Nove dos dez maiores sites de B2B usam Oracle?, afirmou em sua palestra Chuck Rozwat, vice-presidente executivo da companhia. O mercado B2B é explorado por diversas empresas, mas cada uma delas é especializada em uma ou duas ferramentas de negócio. Já a Oracle foi a primeira a apostar numa solução que oferecia todas elas. ?Para uma empresa comum, é muito difícil pegar pedaços de software que foram feitos por diferentes companhias e colocá-los para conversar um com o outro?, disse Ellison. ?É o mesmo que comprar a traseira do Airbus e o sistema de controle do Cesna. O avião não vai funcionar.?

Outro chamariz lançado pela Oracle no evento foi a adoção do Software-Serviço, estratégia resumida nas iniciais ASP. Em vez de comprar um pacote fechado com um programa e instalá-lo na sua máquina, a Oracle propõe que seus clientes utilizem softwares armazenados num grande servidor remoto, no caso, nos Estados Unidos. A fornecedora fica responsável por manter atualizado seus programas e por mantê-los disponíveis. O cliente não precisa instalar nada, basta baixar o programa por meio de um navegador de Internet e utilizá-lo. Se o volume de visitas no site aumentar, a empresa apenas terá que pagar uma mensalidade maior ao seu fornecedor ASP. ?O software oferecido como serviço será o futuro da indústria de tecnologia?, disse Ellison em São Francisco. O executivo, segundo homem mais rico do mundo depois de Bill Gates e provável campeão do ranking universal dos milionários vaidosos, gaba-se de ter lançado mundialmente em 1995 a idéia de uma computador adaptado a trabalhar na rede. ?Todos me taxaram de louco?, disse. ?Hoje isso é considerado convencional.? Ao ser provocado a fazer comparações entre sua empresa e a Microsoft, líder em programas para uso pessoal, Ellison disse que a Oracle estava ?tentando fazer no mercado de software para empresas o que a Microsoft fez com seu pacote de programas.? Ou seja: disseminar o uso de um pacote de seus produtos, fechando a porta para concorrentes isolados. A respeito do comportamento das ações da Oracle, foi sucinto: ?Vão subir?. Por uma armadilha do destino, na mesma tarde as ações da empresa tiveram uma queda de 12% na Nasdaq, puxando uma queda no mercado de tecnologia. É bem possível que em alguns dias o otimismo de Ellison acabe prevalecendo. Afinal, os americanos adoram um guru, mesmo que ele use ternos Armani e se desloque de helicóptero.