As principais empresas de comércio eletrônico e de logística do País definiram como abusivo e anticompetitivo o aumento de até 51% nos preços dos serviço de entregas de mercadorias realizados pelos Correios. Mas o reajuste tarifário, que foi anunciado em março, pode acabar se tornando um verdadeiro tiro no pé para a estatal, que vive a maior crise de sua história, com prejuízo de R$ 2 bilhões em 2017. Isso porque companhias como Magazine Luiza, Mercado Livre e B2W estão montando operações independentes ou firmando parcerias comerciais para realizar a entrega das mercadorias compradas em suas lojas digitais.“Os Correios estão em declínio”, disse Olivier Establet, CEO da filial da GeoPost em Portugal e presidente do conselho de administração da Jadlog, empresa que realiza entregas de produtos de redes varejistas como Netshoes, Saraiva, Mercado Livre, Walmart, entre outras. “Sabemos as rotas certas para ganhar o mercado.”

A Jadlog, que está no mercado desde 2005, é um exemplo de empresa que pode sair ganhando com o aumento das tarifas dos Correios. No ano passado, ela fez 10,2 milhões de entregas de encomendas. Deste montante, pouco mais de 40% tiveram como remetentes empresas de comércio eletrônico. Com o anúncio dos Correios, as estimativas de crescimento da empresa para este ano são altas. “Alguns e-commerces já nos procuraram querendo firmar novos negócios ou para aumentar as operações que eles já têm conosco”, diz Bruno Tortorello, CEO da companhia no Brasil. O plano da Jadlog é investir R$ 50 milhões em logística. Em 2018, a principal iniciativa será permitir com que os consumidores retirem as encomendas em lojas, farmácias e diversos outros estabelecimentos espalhados pelo Brasil. O objetivo é reduzir os custos de transporte, pois diversas mercadorias que são entregues em diferentes destinos seriam deixadas em um único endereço.

Carga pesada: os Correios estão tentando se recuperar do prejuízo de R$ 2 bilhões no ano passado (Crédito:Jose Lucena/Futura Press)

O plano da Jadlog está longe de ser novidade. A rede varejista Magazine Luiza, por exemplo, entrega 20% das mercadorias compradas pela internet nas próprias lojas físicas. Mesmo com 31% de seu faturamento do quarto trimestre de 2017 obtido com o comércio eletrônico, algo em torno de R$ 4,4 bilhões, a companhia seria uma das que menos sofreria com o aumento das tarifas da estatal brasileira. “Pouco mais de 10% das nossas entregas são feitas pelos Correios”, afirmou Frederico Trajano, presidente da companhia, em entrevista à DINHEIRO, em novembro do ano passado. A estratégia do Magazine Luiza para não depender dos Correios foi criar uma rede própria de microtransportadores. Essas empresas, que trabalham exclusivamente para a rede varejista, realizam a entrega das compras feitas no site e abastecem o estoque das lojas físicas. Em 70% das vezes, o mesmo caminhão faz as duas entregas.

Outras gigantes do varejo nacional também adotaram a estratégia de não colocar todos os ovos na mesma cesta. A ideia é reduzir o custos com logística que compõe de 6% a 20% de uma operação de e-commerce. A Via Varejo, responsável pelas marcas Casas Bahia e Ponto Frio, diz ter uma “baixa dependência dos Correios” e que “conta com uma rede diversa de parceiros”, mas não revelou com quais trabalha. Na quinta-feira 8, a B2W, dona do Submarino, da Americanas.com e do Shoptime, anunciou a criação da operadora de logística Let’s. A companhia vai administrar 1.300 lojas físicas das Americanas e permitir que 300 delas disponibilizem a retirada de mercadorias compradas pela internet. Procurada, a B2W não forneceu detalhes dessa nova operação.

Frederico Trajano, CEO do Magazine Luiza: ”Pouco mais de 10% das nossas entregas são feitas pelos Correios” (Crédito:Claudio Gatti)

Até mesmo o Mercado Livre, que conseguiu uma liminar na Justiça barrando provisoriamente o reajuste proposto pelos Correios, busca opções. “O aumento foi abusivo”, diz Leandro Soares, diretor do Mercado Envios, divisão logística do Mercado Livre. Segundo ele, em média, os custos da operação sofreriam alta de 29%. “Não temos como absorver este valor.” A boa notícia para o Mercado Livre é que, ao menos na modalidade Mercado Envios Coleta, que busca os produtos no endereço dos vendedores e entrega diretamente para os consumidores, a companhia trabalha com as transportadoras Jadlog, Total Express, Transfolha, DHL e Loggi.

Segundo dados da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), o e-commerce enviou 200 milhões de pacotes no ano passado no Brasil, sendo que 78% foram transportados pelos Correios. “Esse número já foi maior”, diz Maurício Salvador, presidente da ABComm. Em 2013, o percentual era de 93%. “As empresas estão corretas em buscarem alternativas privadas.” Procurado, os Correios divulgaram nota negando que o valor seja abusivo e afirmando que está trabalhando para obter suspensão da liminar do Mercado Livre.