Os cerca de cinco 5 Km que separam os bairros de Moema e Jardim Europa, ambos em São Paulo, já foram fonte de muitas reflexões para o paulistano Gabriel Arcon, de 36 anos. Por conta da imprevisibilidade do trânsito, ele gastava entre 40 minutos e 1h30min para percorrer o trajeto de casa até a sede do fundo de investimento no qual atuava como gestor. Neste período, ele se entediava com as buzinas, o barulho das motocicletas, que se espremem entre as faixas de rolamentos, e com a perda de tempo. Em 2014, no entanto, Gabriel decidiu abandonar o carro e apostar numa bike. “Meu humor melhorou consideravelmente”, recorda. “Além de economizar até R$ 300 mensais de estacionamento e combustível, ainda me livrei do estresse, pois não gastava mais do que 30 minutos para chegar ao escritório”.

Contudo, havia um problema. Em dias muito quentes, Gabriel chegava ao escritório muito suado. Para resolver o problema, ele comprou uma bike elétrica. “O tempo de deslocamento foi reduzido para 18 minutos e eu chegava no trabalho sequinho”, diz. Logo que chegou ao trabalho com a magrela elétrica, formou-se uma fila de colegas ávidos por testar o “brinquedo”, no quintal da casa onde funcionava o fundo de investimentos. É nesse ponto que a carreira do gestor de investimentos começou a dar lugar a de empreendedor da área de mobilidade. “Percebi que aquela empolgação representava, na verdade, uma oportunidade de negócios”.

Na virada do ano, Gabriel pediu demissão e montou a E-Moving, startup especializada na venda de bikes elétricas. O modelo de negócio, no entanto, evoluiu para o de aluguel mensal das magrelas elétricas, algo inédito no mercado brasileiro, até então, e que não para de crescer. Para 2019, a previsão é fechar 2019 com o aluguel de 1.500 bikes (entre unidades vendidas e alugadas) e uma receita de R$ 4 milhões. Um salto e tanto em relação aos R$ 343 mil obtidos em 2016.

A carteira de clientes é composta por 63 empresas conveniadas, que alugam as bikes para ajudar na mobilidade dos funcionários. O valor mensal de R$ 269 equivale a R$ 12,23 por dia útil. A carga total, suficiente para rodar por até 25 Km, dependendo do tipo de percurso, custa módicos R$ 0,15. Além de focar no chamado B2B, o CEO da E-Moving também está ampliando suas apostas no B2C, para aproveitar a maré favorável de aluguel de veículos de duas rodas. O empreendedor não enxerga os patinetes como concorrentes. “A popularização de veículos elétricos compartilhados está ajudando a movimentar o setor de mobilidade inteligente”.

Coincidência ou não o fato é que Gabriel acaba de lançar um ambicioso projeto de instalação de unidades de recarga pela Área Central de São Paulo. Por meio de uma parceria com a rede de padarias Benjamin já foram instalados 10 E-Moving Points. A meta é chegar a 40 unidades, até setembro, espalhados pelo Centro Expandido, área que inclui a região Central e parte das zonas Oeste e Sudeste. “Além de carregar a bicicleta, nosso cliente ainda ganha um cafezinho”, destaca.

A expansão do negócio será financiada por uma nova rodada de captação de recursos, que está sendo estruturada com o suporte da Quintessa, aceleradora de empresas de impacto social. A expectativa é obter cerca de R$ 15 milhões. Apesar de se concentrar na locação, a E-Moving não abriu mão da produção das bikes. O trabalho é feito por uma equipe que reúne 40 funcionários responsáveis pela operação e montagem dos componentes importados da China.

Ao atuar praticamente de forma para chegar neste ponto, Gabriel contou com a sorte, a ajuda da família e dos amigos, além da confiança de investidores de grande porte. Um deles é o multimilionário Edgar Corona, fundador da Bio Ritmo e da Smart Fit. Os dois se conheceram em agosto de 2017, quando Gabriel e o sócio Kleber Piedade, seu amigo “das antigas”, foram buscar mais fôlego no programa Shark Tank – Nadando com Tubarões, exibido pelo canal Sony e pela TV Bandeirantes. Kleber está no negócio desde o início da empresa e na primeira rodada de investimentos eles levantaram R$ 1,6 milhão.