A pesar das incertezas políticas e econômicas de 2018, as ações mantiveram o brilho. A queda sistemática dos juros melhorou também a valorização das empresas na Bolsa, enquanto a alta do dólar beneficiou especialmente as empresas exportadoras. Tudo isso tornou os pregões uma alternativa mais atrativa do que as aplicações mais arriscadas, garantindo resultados acima da média de acordo com a relação entre rentabilidade e risco indicada pelo índice de Sharpe. Nomes como Skopos BRK FIC, Squadra Long Viased FIC e Forpus FIC se destacaram com rentabilidades até nove vezes maior que a variação dos juros de mercado (observe o quadro ao lado com os melhores fundos de ações).

Há justificativa para isso: sacudido pelo resultado das eleições presidenciais, o Ibovespa, que concentra os papéis mais negociados, subiu 17% em 12 meses (até o fim de novembro de 2018). No entanto, ao contrário de anos anteriores, em que os lucros dependeram de uma só estratégia de investimentos, como a aposta em empresas ou exportadoras ou naquelas vinculadas ao consumo, os bons resultados de 2018 decorreram das mais variadas táticas. Um bom exemplo é o do fundo Forpus Capital. Para defender a carteira dos solavancos, Francisco Giffoni Meirelles, sócio-fundador e gestor da Forpus Capital, evitou empresas de commodities como Vale e Petrobras. “Observamos que a desaceleração da economia nos Estados Unidos e na Europa prejudicaria a demanda”, afirma. Mas Meirelles não olhou apenas para o mercado internacional. Outra faceta da estratégia considerou a mudança de governo. Por isso, o gestor apostou em papéis de estatais que pudessem ser valorizados numa possível privatização. “Era muito provável que um candidato mais liberal saísse vencedor”, diz. “Então colocamos na carteira as ações de empresas passíveis de ser transferidas ao setor privado, ou que poderiam melhorar sua governança corporativa com menos interferência do governo.” Meirelles se diz otimista quanto à aprovação das reformas no Congresso Nacional, que pode turbinar ainda mais os ganhos dos fundos de ações.

ECONOMIA DOMÉSTICA Os gestores da Bradesco Asset Management (Bram) adotaram uma tática diferente, que permitiu a três fundos do banco ficarem entre os melhores em suas categorias. O segredo foi a escolha criteriosa dos papéis. “Em meio à queda de juros, o foco maior foi para as empresas de economia doméstica e com os bancos”, afirma Marcelo Nantes, superintendente da Bram. Ele diz que, devido à instabilidade pré-eleitoral, o fundo decidiu reduzir os riscos, estratégia que permanece em vigor. “Estamos mais cautelosos, mas sempre de olho no cenário político para girar o nosso portfólio”, afirma. Para 2019, Nantes diz que setores como o varejo devem ficar atrativos, desde que o novo governo consiga aprovar as reformas e inicie um novo ciclo de baixa nos juros. Outro ponto que permanecerá no radar do gestor é o comportamento da economia americana, que sofre com os efeitos da guerra comercial com a China. Os dois países são, respectivamente, o primeiro e o segundo parceiros comerciais do Brasil, e uma retração nas importações deles vai afetar diretamente o País.

Segundo os especialistas, independente do segmento e da estratégia dos fundos, os gestores que correram mais riscos foram premiados pela sua ousadia. E, naturalmente, brindaram os investidores com um retorno acima da média. Segundo uma pesquisa do Centro de Estudos em Finanças (CEF), da EAESP FGV, cerca de 70% de todos os fundos de ações abertos à captação renderam mais que o Índice Bovespa. “A principal explicação para esse resultado foi fugir das ações de commodities, que continuam em queda, e investir no consumo interno”, diz William Eid Júnior, coordenador do Centro. “Não é fácil dizer se os fundos de ações serão a melhor opção de investimento em 2019, mas há boas perspectivas de ganhos se a nova equipe econômica conseguir fazer avançar a reforma da Previdência”, diz. Alguns gestores, mais otimistas, consideram que a aprovação das medidas de reformulação econômica poderá mandar o Índice Bovespa para cerca de 130 mil pontos, o que representa uma valorização potencial de quase 50% em relação ao fechamento do dia 18 de dezembro. É esperar para ver. Procuradas, as gestoras Sparta e Skopos não concederam entrevista.

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