No xadrez, os peões garantem a proteção inicial das demais peças do jogo, proporcionando segurança para uma estratégia mais ousada em busca da vitória. Nos investimentos financeiros, a categoria renda fixa possui esse simbolismo de proteção ao patrimônio, embora como os mais experientes já sabem, a renda fixa pode apresentar tanta volatilidade e riscos quanto a renda variável. Ao mesmo tempo, reza a lenda que “os juros compostos são a oitava maravilha do mundo”, uma máxima atribuída ao cientista Albert Einstein.

No Brasil, ela é verdadeira, com o acréscimo de que os juros compostos por aqui são altos. No turbulento ano eleitoral de 2022, a renda fixa movida a juros pós-fixados (Selic e DI) saiu vitoriosa e entregou ganhos reais aos aplicadores de perfil mais conservador, avessos ao risco. Diante de uma inflação anual de 5,79% medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), aplicações seguras como poupança (+7,95%), CDB DI (+11,71%), fundos simples (+11,7%), fundos de renda fixa DI de curto prazo (+11,5%) e o Tesouro Selic (+12,74%) registraram rentabilidade média acima do indicador, de acordo com dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Voltadas para aplicadores de perfil moderado e agressivo, aplicações em títulos prefixados de cinco anos (+13,15%) e em debêntures DI (+14,56%) entregaram ganhos melhores no último ano, mas com riscos maiores.

Para 2023, analistas consultados pela DINHEIRO apontam um cenário local de juros pós-fixados em patamar elevado (Selic atual em 13,75% ao ano) que favorece ganhos reais em aplicações conservadoras. “É um ano para renda fixa pós-fixada para todos os tipos de investidores, não só para o conservador. Na projeção do Itaú BBA, se a Selic cair é para um patamar de 12,5% no fim de 2023”, disse Martin Iglesias, especialista líder de Investimentos e Alocação de Ativos do Itaú Unibanco.

Ou seja, quem aplicar a reserva de emergência em investimentos considerados seguros e de baixo risco como fundos simples, fundos de renda fixa DI de curto prazo, CDBs DI de grandes bancos e Tesouro Selic está com a renda na sombra, pois os ganhos tendem a superar a inflação com alguma folga por causa dos juros altos.

RISCOS Investidores de perfil moderado e agressivo devem movimentar seus peões no tabuleiro dos investimentos com maior cautela. A percepção sobre o risco do crédito privado aumentou depois da fraude descoberta na Americanas e o tombo das debêntures da varejista no mercado. As dívidas de R$ 43 bilhões da empresa evidenciaram que emprestar dinheiro para empresas pode ser arriscado. Bancos, cotistas de fundos de crédito privado e até mesmo investidores pessoas físicas de papéis de crédito (debêntures, notas comerciais, promissórias) sentiram o gosto amargo do calote com a falha de governança e falta de fiscalização adequada de auditorias (PwC) e da CVM.

O risco, no entanto, pode compensar. Na média, o investimento em crédito privado paga um prêmio adicional de cerca de 1 ponto percentual ao ano acima do rendimento dos títulos públicos. No ano passado, essa premissa foi válida, o IDA-Geral, que mede a rentabilidade geral das debêntures ficou em 10,64%, 0,98 ponto percentual acima dos 9,66% do IMA-Geral, que mede o desempenho geral dos títulos públicos federais. Para minimizar o risco do crédito privado em 2023 e obter um valor acima do risco soberano, a recomendação dos especialistas é a diversificação.

LONGO PRAZO Martin Iglesias, do Itaú, também alerta para o risco na percepção da marcação de mercado nos títulos públicos de longo prazo, pois se os juros sobem, os preços dos títulos prefixados e de inflação recuam. “Mas se carregar até o vencimento o retorno está garantido, juros reais acima de 6% ao ano não existem em nenhum lugar do mundo”, afirmou.

Em 2022, com a alta das taxas, as aplicações de renda fixa com papéis de duração maior tiveram desempenho pior que as operações de curto prazo por causa da marcação de mercado. Como exemplo, o IMA-B 5+, índice que acompanha os títulos de inflação com prazo acima de cinco anos, mostrou valorização de apenas 3,3% no ano, mais de 2 pontos percentuais abaixo do IPCA.

Agora o cenário é outro e esses mesmos títulos (NTN-Bs ou Tesouro IPCA) prometem ganhos reais exuberantes para o horizonte de longo prazo. Dados do Programa de Compra e Venda de Títulos Públicos Federais pela Internet (Tesouro Direto) mostram, por exemplo, o título Tesouro IPCA+ garante a inflação mais juros reais de 6,10% ao ano até o vencimento de 2029, juros reais de 6,26% ao ano até 2025, e 6,43% ao ano, se o aplicador suportar a volatilidade até 2045. Para quem possui tempo e não tiver necessidade de resgates no curto e no médio prazo, dá para sentar na sombra e esperar até o efeito dos juros compostos multiplicar seu capital.

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