Wilson Amaral, presidente da construtora e incorporadora Gafisa, resolveu comprar alguns lotes de terreno para a construção de casas. Alguns não, milhares. A empresa adquiriu na segunda-feira 2 o controle da Alphaville Urbanismo, companhia especializada em condomínios residenciais horizontais de alto padrão, com forte presença em 35 cidades brasileiras. É aquela Alphaville, sim. A mesma que empresta o nome ao famoso empreendimento situado em Barueri, na Grande São Paulo. Pois agora ela se torna a mais nova divisão do grupo Gafisa. Valor do negócio: R$ 383 milhões. Do total, R$ 20 milhões serão pagos em dinheiro e o restante com ações da Gafisa. ?Estamos reforçando nossa posição em um setor que, até aqui, não representava nem 10% de nossas vendas?, afirma Amaral. É que a Gafisa é especialista no segmento residencial, mas sua força está nos empreendimentos verticais (prédios). Com a Alphaville, a empresa presidida por Amaral resolve o problema. Ela acaba de incorporar nada menos do que a líder do setor.

 

Na negociação, ficou estabelecido que Nuno Lopes Alves e Renato de Alquerque, que detinham o controle da Alphaville, terão um naco de 5,9% das ações da Gafisa. Albuquerque, fundador de Alphaville, manterá assento no conselho de sua antiga empresa e ganhará outro no board da Gafisa. Alves, por sua vez, continuará sendo o principal executivo da Alphaville. ?Não havia porque mudar. É só olhar para os resultados da empresa?, diz Amaral. Vamos à eles. Em 2005, a AlphaVille faturou R$ 170 milhões com o lançamento de quatro empreendimentos. E já dispõe de um estoque de terrenos que garante lançamentos para os próximos três anos. ?Além disso, a empresa está capitalizada e atua em um setor no qual as margens são maiores que a média de mercado e as vendas acontecem em prazos menores?, elogia o presidente da Gafisa. Enquanto em um prédio de médio e alto padrão, há financiamento a longo prazo, de dez a vinte anos, nos lotes dos condomínios horizontais os prazos não passam de cinco anos. E, na maioria dos casos, o pagamento é a vista.

Do lado da Gafisa, a situação é melhor ainda. A empresa lançou 21 empreendimentos residenciais em 2005, totalizando valor geral de vendas de R$ 652 milhões. Esse volume representou um aumento de 215% e relação a 2004. Para este ano, a previsão é de um crescimento de 28% nos lançamentos, o que daria algo como R$ 870 milhões. ?Foi um casamento perfeito, marcado por felizes coincidências?, conta Amaral. Desde o começo do ano, a Gafisa estava procurando oportunidades de aquisição no mercado. O setor vive uma fase de consolidação e a empresa não queria perder a chance de ver suas vendas aumentarem rapidamente. Ao mesmo tempo, a Alphaville sabia da necessidade que tinha de um parceiro estratégico. Em março, contratou a Signature Lazard, uma assessoria financeira, para buscar um comprador para a empresa. Não demorou muito para a Signature chegar à Gafisa.

E se a empresa de Amaral buscou a diversificação nos condomínios horizontais, a nova parceria está ensaiando sua estréia no mercado de médio padrão. Hoje, os lotes da AlphaVille são vendidos por R$ 250 mil. São terrenos nos quais erguem-se casas de até R$ 1 milhão. A idéia é buscar terrenos na faixa de R$ 70 mil a R$ 100 mil. A Gafisa, por sua vez, acaba de investir R$ 1 milhão para criar um novo braço: a Gafisa Vendas, que já conta com um time de 50 corretores. É a primeira vez que a empresa conta com uma equipe própria de vendedores, seguindo os passos de concorrentes como a Cyrela. A Gafisa Vendas terá papel importante na nova parceria. ?Há muitas possibilidades de negócios conjuntos entre Gafisa e AlphaVille. Foi uma boa aquisição?, diz Amaral. E a temporada de compras não deve parar por aí. O executivo da Gafisa tem carta branca para prospectar o mercado. Corretor, pelo visto, não vai faltar.