Gafisa agitou o mercado carioca em setembro ao lançar o Tom Delfim Moreira, empreendimento com apenas seis unidades (350 m² cada) e metro quadrado entre os mais caros do País: R$ 100 mil. A experiência no segmento de altíssimo padrão parece ter contagiado a diretoria da construtora e incorporadora, agora de olho no público AAA de São Paulo. Prova disso é o Tonino Lamborghini Apartments, edifício de alto luxo que a empresa lançará em novembro, nos Jardins, em parceria com a marca de design italiano. Serão 114 unidades no total e R$ 300 milhões de Valor Geral de Vendas (VGV). “Foi um consenso da diretoria de realmente buscar essa estratégia [investir no segmento de altíssima renda]”, afirmou à DINHEIRO Fábio Romano, presidente da Gafisa Viver Bem, programa de relacionamento com clientes. “Já compramos terrenos importantes, bem localizados e em bairros nobres [Itaim é um deles]. Outros lançamentos vão sair.”

Com 67 anos de estrada, a Gafisa está de olho principalmente nos clientes de alto poder aquisitivo no eixo Rio-São Paulo. “E nada melhor que um empreendimento como esse, em um endereço privilegiado [Alameda Jaú], e ao lado de uma marca mundialmente reconhecida [Tonino Lamborghini], de lifestyle, que realmente faz a diferença”, disse o executivo, ao lembrar que a companhia sempre atuou em diversos nichos imobiliários: hotéis, corporativos, salas comerciais e, inclusive, empreendimentos de luxo. “Mas existe uma tendência que a gente quer para a nossa marca de estar realmente permeando o mercado de altíssimo padrão.”

A aposta da construtora na camada mais alta do setor imobiliário está baseada em diversos fatores, como os econômicos. “Esse mercado sofre muito menos com essa agressão da macroeconomia”, afirmou Romano, ao se referir, entre outras coisas, à taxa de juros mais alta, para controle da inflação. “Nossa leitura para os próximos anos é de que esse produto ainda vai ter alta absorção pelo fato de existir uma escassez de negócios bons na cidade.”

Tonino Lamborghini residences foi o primeiro projeto imobiliário da marca no Brasil, lançado em 2020, em Balneário Camboriú. (Crédito:Divulgação)

A expectativa de bons negócios é tanta que o presidente revelou a existência de dois novos projetos com a Toninho Lamborghini, um para o Rio de Janeiro e outro para São Paulo. Os lançamentos estão previstos para o ano que vem. “Não posso revelar os bairros. Apenas que serão em regiões extremamente valorizadas.”

Na visão do executivo Luis Fernando Ortiz, diretor de incorporação da Gafisa, o segmento de alto luxo precisa de um pouco mais de atenção, por ser um mercado super escasso em São Paulo. “Aparentemente, pode-se imaginar que a economia dificulte os negócios. Mas, às vezes, por ser único, trafega de uma outra forma. Nosso lançamento no Leblon, um dos projetos com metro quadrado mais caro do Brasil, já vendeu praticamente 50%.” Segundo ele, o cliente de luxo tem uma grande oportunidade. “A gente está cada vez mais olhando de uma outra forma, tentando atender.”

Apesar da prioridade ao alto padrão, o presidente da Gafisa Viver Bem garante que os investimentos nos demais segmentos — médio e médio alto — vão prosseguir. Já os voltados para a classe média baixa não estão mais no foco. “Só que a Gafisa tem terrenos que falam com esse público. Os lançamentos irão acontecer no ano que vem”, afirmou.

O fôlego sem fim da Gafisa aparece refletido nas prévias operacionais do terceiro trimestre — os resultados devem ser divulgados no dia 10 de novembro. As vendas brutas atingiram R$ 159 milhões no período e R$ 523 milhões até setembro. Os valores representam crescimentos de 11% e 134% em relação a iguais épocas de 2020. A companhia registrou R$ 691,7 milhões de VGV em lançamentos entre julho e setembro, montante que já atingiu R$ 1 bilhão no ano. “A tendência é chegar próximo de R$ 1,6 bilhão de lançamentos no ano”, disse Romano.

DESIGN O Tonino Lamborghini Apartments foi projetado para oferecer aos clientes uma experiência da marca italiana. Todos os ambientes das áreas comuns terão móveis e itens de decoração importados diretamente da Itália. O empreendimento terá uma cobertura duplex com 498 m², 17 apartamentos tipo, de 252 m², além de 96 studios entre 21 m² e 37 m² — o preço do metro quadrado é de R$ 40 mil. “É uma oportunidade única e exclusiva voltada para a mais exigente clientela brasileira. Queremos criar um marco arquitetônico em uma das maiores cidades da América do Sul”, afirmou Tonino Lamborghini, fundador e presidente da empresa italiana homônima, filho de Ferruccio Lamborghini (1916-1993), criador da icônica marca de automóveis.

O magnata comparou a relação (por dez anos) com a Gafisa a um casamento, “de um passar ao outro as ideias”. Também destacou a seriedade, o profissionalismo, a qualidade do produto e o histórico das empresas. “Porque a Gafisa tem uma grande história, e nós também. Nenhuma das companhias está improvisando”, disse.

O empreendimento em São Paulo será o segundo da Tonino Lamborghini no País. No ano passado, a marca deu nome ao Toninho Lamborghini Residences, em Balnéario Camboriú (Santa Catarina), lançado pela incorporadora de alto padrão Embraed. Com 67 apartamentos, a torre tem imóveis de até R$ 15 milhões, com metragens que vão de 194 m² a 429 m². À época, 50% das unidades haviam sido vendidas em dois meses, antes mesmo do lançamento oficial. “Camboriú tem todas as características estéticas adequadas a uma estação mais turística. Enquanto os Jardins, em São Paulo, é um bairro com escritórios, studios. Nos adaptamos a uma realidade de território diferente”, afirmou o italiano de 74 anos, dono de uma fortuna estimada em mais de 3 bilhões de euros.

O edifício de luxo em São Paulo segue uma tendência já observada nas maiores cidades do mundo, como Miami e Nova York, nos Estados Unidos, além de outras na Europa e na Ásia: o conceito do branded buildings, ou prédios de marca. A Tonino Lamborghini lançou seu plano imobiliário de projetos assinados dez anos atrás com três hotéis cinco estrelas na China. Outros dois empreendimentos do mesmo estilo devem ser inaugurados até o início de 2022, na China e no Egito. O acordo com a Gafisa tem duração de uma década. “É muito importante conseguir fazer com que a localização e o estilo da marca combinem bem. Não é simplesmente trazer uma marca, colocar em qualquer lugar e dizer: ‘Tenho um projeto assinado’”, disse o diretor Ortiz.

Além dos projetos no mercado imobiliário, a marca italiana é detentora de diversos produtos licenciados. O portfólio inclui relógios, perfumes, smartphones, bicicletas, vinhos, energético e cafeterias. Uma prova de que no mundo dos negócios velocidade é marca registrada da Lamborghini.

PDG CONCLUI RECUPERAÇÃO JUDICIAL E VOLTA COM NOVOS NEGÓCIOS

Quatro anos se passaram desde que a construtora e incorporadora PDG entrou em recuperação judicial. A companhia, que chegou a operar simultaneamente 285 canteiros de obras e alcançou a liderança do mercado brasileiro em 2010, foi parar no fundo do poço com dívidas superiores a R$ 5,3 bilhões. O hiato desde 2017 serviu para a empresa colocar a casa em ordem. Após estruturar o passivo com 25 mil credores, a PDG volta ao mercado com novidades e com a expectativa, ainda tímida, de um dia, quem sabe, retomar o estrelato. “Tivemos inicialmente de estancar a grave crise, realizando ajustes internos, promovendo duras negociações com credores e fornecedores. Tudo para estabilizar a empresa e garantir a sua sobrevivência”, afirmou à DINHEIRO Augusto Reis, CEO da PDG. “Agora, o desafio é retomar a atividade operacional e voltar a crescer.”

O primeiro passo para retomar a caminhada deve ser dado ainda no primeiro trimestre de 2022 com o lançamento de um empreendimento no Tatuapé, em São Paulo, com Valor Geral de Vendas (VGV) de R$ 60 milhões. Será uma torre única com unidades de dois ou três dormitórios. Uma aposta sem muitos riscos comerciais para uma empresa antes acostumada a empreender também nas camadas mais altas da sociedade, mas que agora dará a sua tacada no segmento de média renda, com imóveis de tíquete médio de R$ 300 mil a R$ 350 mil, faixa logo acima do programa habitacional Casa Verde e Amarela, do governo federal. “É o segmento com a maior procura na cidade de São Paulo. Não podemos errar. Com um produto bem encaixado a gente consegue ter maiores chances de sucesso.” O foco da companhia agora será exclusivamente no mercado da capital paulista e Grande São Paulo.

Fundada em 2003, a PDG alcançou números de respeito no setor. Foram lançados 709 projetos desde então, representando 155 mil unidades. Dos 17 empreendimentos pendentes dos tempos áureos, a companhia solucionou a situação de oito durante a recuperação judicial. Nove, em diferentes estágios, ainda dependem de discussões. Segundo Reis, as soluções são diversas e em praças diferentes. “Temos empreendimentos, por exemplo, no Rio de Janeiro, em regiões onde o mercado ainda não se recuperou. Negócios com um preço médio hoje que é metade do valor de quando lançamos. Economicamente ainda é muito difícil uma solução.”

Nos últimos anos, a empresa deu foco na reestruturação interna e na comercialização de ativos, para garantir liquidez e manter a atividade operacional. A PDG também preservou grande parte do seu landbank com a intenção de garantir o retorno dos lançamentos.Atualmente, o banco de terrenos da empresa tem VGV potencial de R$ 6,5 bilhões, que representam 16,9 mil unidades. “Mantivemos esse terreno no Tatuapé porque fica em São Paulo, uma praça que tem muita procura. Mas temos outros ativos importantes na cidade. São neles que estamos traçando o plano de retomada”, disse.

O processo de reestruturação da PDG incluiu a criação da Verny, unidade de negócios que mira usar a capacidade instalada da PDG, para atender às necessidades do setor. A empresa está estruturada em três pilares: apoiar outros incorporadores na questão da esteira do desenvolvimento imobiliário; engenharia, como reformas; e o desenvolvimento de um aplicativo que leve tecnologia aos condomínios. “É uma maneira de a gente diversificar a nossa fonte de receita.”

Apesar da motivação, o CEO revela preocupação em relação ao comportamento do setor em 2022, ano de eleições. Para Reis, quanto mais insegurança institucional e política o País enfrenta, mais o mercado imobiliário sofre. “Não podemos esquecer que a nossa política interfere no câmbio com consequências na inflação, no emprego e nos juros”, disse. Uma incerteza, ao que tudo indica, mais desafiadora do que a retomada da PDG.