Um leilão de gado agitou a cidade de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, na segunda-feira, 20. Parecia um show com direito a transmissão via satélite, luzes, trechos de Carmina Burana e mais de 700 convidados chegando em picapes de luxo. Entre os presentes, empresários da elite agropecuária brasileira, além de grandes usineiros de São Paulo e da alta cúpula da Camargo Corrêa e da Mendes Júnior, empresas com um braço nesse setor. O que mais chamava atenção na superprodução é que os animais leiloados não estavam presentes. Na verdade, eles sequer existem ainda. O que se estava vendendo lá eram embriões. Isso mesmo. Animais que ainda estão em gestação. Para os reis do gado brasileiro, esse tem sido o melhor filão dos últimos anos: comprar filhotes de campeões feitos por manipulação genética, ainda na fase embrionária. ?Todo mundo está de olho na genética para aumentar sua eficiência?, diz Oswaldo Possari, dono da Sete Estrelas, uma das maiores centrais de genética bovina brasileiras e organizadora do leilão. ?Nos últimos dois anos houve um aquecimento dessa pecuária de seleção, para fazer um boi mais competitivo?.

 

Os números de Campo Grande mostram a importância dos embriões. Em duas horas foram vendidos 35 deles por um total de R$ 740 mil. ?Nesses leilões o criador consegue ter acesso a uma genética que ele não possui mas gostaria de ter?, avalia o empresário Benedito Mutran Filho, que cria 50 mil nelores no Pará. Só para se ter uma idéia do mercado, nos últimos leilões de Uberaba, os mais concorridos do Brasil, chegou-se a pagar R$ 70 mil por um embrião e R$ 300 mil por uma vaca doadora de óvulos.

A lucratividade do negócio é alta. Enquanto uma vaca dá à luz a um filhote por ano, na transferência (feita através de hormônios) o número sobe para 15 embriões por ano. Um bom investimento para quem não tem medo de arriscar. ?É uma aposta?, diz o usineiro Eduardo Biagi, que tem 30 mil nelores. Afinal, gastar alguns milhares de reais num embrião não garante que ele vá resistir ao parto ou nascer saudável. ?Mas para quem pensa em longo prazo, é um grande negócio?, conclui Biagi.