Os ministros das Finanças do G20 se reúnem neste fim de semana em Buenos Aires para tratar das ameaças que pairam sobre o crescimento mundial, em particular os riscos de uma guerra comercial e de crise nos países emergentes.

Já na quarta-feira, a diretora-gerente do Fundo Monetário internacional (FMI), Christine Lagarde, deu o tom dessa terceira reunião do G20 financeiro sob presidência argentina, garantindo que a guerra comercial pode custar bilhões de dólares ao PIB mundial nos próximos anos.

Lagarde também advertiu o governo Trump que “a economia americana está particularmente vulnerável, porque uma grande parte de seu comércio será sob o golpe de medidas de represálias”.

Ao contrário da cúpula do G7 em Québec no início de junho, quando o presidente Donald Trump retirou seu apoio à declaração final elaborada com seus aliados, a reunião de Buenos Aires deve ser concluída com a divulgação de um texto comum, disseram fontes próximas das negociações.

Ainda assim, não se deve esperar um comunicado condenando o protecionismo, já que o G20 Finanças tem “seus limites”, como reconheceu o ministro argentino da Economia, Nicolas Dujovne, na última reunião desse grupo, em Washington, em abril passado.

Em março, durante o primeiro encontro do ano em Buenos Aires, os ministros conseguiram, com dificuldade, chegar a um comunicado, no qual reconheceram que “as tensões econômicas e geopolíticas” ameaçam o crescimento mundial.

Depois disso, o presidente Donald Trump passou do discurso à ação, apesar dos inúmeros alertas do FMI e de seus parceiros sobre uma guerra comercial sem vencedores.

Trump sobretaxou as importações de aço e de alumínio de seus aliados e da China, impôs tarifas punitivas de 25% em 34 bilhões de dólares em produtos de Pequim, além de ameaçar os veículos europeus com mais tarifas.

No último fim de semana, o presidente americano chegou, inclusive, a classificar a União Europeia como “inimiga” no plano comercial.

Os Estados Unidos já anunciaram que vão a Buenos Aires para denunciar, mais uma vez, “a agressão econômica da China”, país para o qual o secretário do Tesouro americano, Steven Mnuchin, apontou o dedo acusatório na reunião de março.

– Crise emergente –

Como o encontro acontece na Argentina, os ministros tratarão, necessariamente, da crise que ameaça os países emergentes. Recentemente, Buenos Aires obteve do FMI um empréstimo de 50 bilhões de dólares para enfrentar a desvalorização do peso, que despencou 35% entre abril e junho.

“A situação de alguns emergentes é mais tensa, com a alta do dólar e a questão dos fluxos de capitais”, que saem desses países para aproveitar a alta das taxas de juros americanas, reconheceu uma fonte francesa em conversa com a AFP.

Segundo Lagarde, 14 bilhões de dólares foram retirados desses mercados entre maio e junho.

“Estamos em um período onde a política monetária do Fed vai continuar a se estreitar progressivamente, talvez um pouco mais rápido do que estava previsto”, acrescentou a fonte francesa, com o risco de que os emergentes também sejam forçados a aumentar suas taxas para conter a desvalorização de sua moeda.

Nesse contexto tenso, os ministros também debaterão a questão do endividamento dos países mais pobres que viram um aumento ao longo dos últimos anos.

“A ênfase será posta na questão da transparência da dívida e da sustentabilidade dos financiamentos concedidos aos países mais pobres”, explicou a fonte francesa.

A questão fiscal voltará à mesa do G20, que ainda não conseguiu chegar a um consenso em março a respeito da taxação para os gigantes do setor digital.

Desta vez, o G20 deve se pronunciar sobre a atualização dos critérios da OCDE para avaliar a qualidade da troca automática de informação.