O administrador de empresas Milton Milioni divide a sua jornada de trabalho na direção da Geração Corretora de Valores e na Associação Brasileira de Mercado de Capitais. Como bom gestor do dinheiro dos outros, ele também administra suas próprias contas. Inclusive as que se referem à garantia de uma aposentadoria tranqüila. Primeira decisão de olho no futuro: ele não tem e nem pretende ter um plano de previdência privada. ?Eu mesmo programo os meus investimentos.? Assim como Milioni, boa parte dos profissionais dessa área prefere colocar a mão na massa a pagar um desses planos. Para eles, que entendem e acompanham as tendências de aplicações, economizar por conta própria o dinheiro significa maior vantagem financeira. Ficam livres dos custos de administração e podem conseguir rendimentos superiores. E isso não vale apenas para profissionais. Qualquer um pode sair ganhando, desde que tenha disciplina e organização para saber o lugar e a hora certa de investir.

Uma pessoa, por exemplo, que paga prestações de R$ 2 mil por mês num plano de previdência privada acumula, em 30 anos, uma pequena fortuna de R$ 3.696.000,00. O que representa receber R$ 14 mil mensais durante 22 anos. Já quem aplica o mesmo dinheiro num fundo de renda fixa (com rentabilidade de 0,8% ao mês) vai ter, no final de 30 anos, no mínimo 10% mais, ou R$ 4.152.826,00. Ou a possibilidade de retirada mensal de R$ 15.730 por 22 anos. Os cálculos da Associação Nacional dos Executivos em Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) consideram juros mensais de 0,5%. No ano passado, os 22 fundos de aposentadoria programada individual, os Fapi?s, disponíveis no mercado, tiveram rendimento médio acumulado de 8,17%, segundo a consultoria Invest Tracker. Perderam até mesmo para a poupança, com 8,39%. Os PGBL?s, que mesclam ativos da renda fixa e variável, tiveram performance melhor, com ganhos médios de 12,22%, atrás do CDI, que acumulou alta de 17,31%. Os investidores desses planos só ficaram protegidos da queda de 10,72% do Ibovespa.

Os planos podem não ser tão rentáveis assim, mas, em contrapartida, oferecem ao investidor incentivo fiscal. Essa vantagem é restrita à fase de depósitos do dinheiro, que fica isenta do desconto do Imposto de Renda. Além disso, o contribuinte poderá deduzir o pagamento à previdência privada, até o limite de 12% de sua renda. Mas na hora de receber os benefícios, o imposto será cobrado no saque. A vantagem real é que não há incidência sobre o lucro. ?Nenhum outro investimento tem essa garantia?, conta Hosannah Santos Filho, superintendente do Unibanco AIG Previdência. Esse incentivo também deve ser calculado na ponta do lápis. Os custos dos planos de previdência podem abocanhar essa economia fiscal.

Os bancos e corretoras cobram taxas de administração que variam de 3% a 6% no Fapi. No PGBL fica entre 1,5% e 5%, mas nesse caso é cobrada ainda a taxa de carregamento, para custos operacionais, que varia entre 4% e 12%. Com isso, se o custo total para manter o plano superar 10% levará embora a isenção fiscal. Mas o que conta pontos mesmo em defesa dos planos de previdência é um item que dificilmente poderá ser compensado em números: a disciplina. ?É improvável que alguém seja tão organizado a ponto de não usar a reserva por 30 anos?, diz Vladimir Novaes Martinez, consultor de previdência. Ele tem razão. Sem organização, a administração do futuro pode se tornar um grande pesadelo. De qualquer forma, tanto no plano privado como na poupança própria, o investidor deve começar a aplicar o quanto antes para conseguir formar um patrimônio futuro. O tempo que o dinheiro ficará em caixa fará diferença depois, na hora da aposentadoria.