Depois da tempestade, ainda não veio a bonança. Essa é a leitura que se faz da situação dos fundos de Internet, que desde um desembarque fascinante, no início do ano, só fizeram perder patrimônio, rentabilidade e clientes. O sufixo ?.com?, que atraía dinheiro como uma lâmpada atrai mariposas, hoje espanta até os investidores mais arrojados. A principal causa é a queda da Nasdaq, a meca das ações de tecnologia, nos Estados Unidos. O índice Nasdaq acumula queda de 31% desde o início do ano. No Brasil, o estrago segue mais ou menos a mesma proporção. Desde que os analistas começaram a proclamar o estouro da bolha de riqueza virtual, em abril, segurar os investidores decepcionados, na esperança que o mercado melhore, tornou-se a principal preocupação dos administradores de carteiras. O E-fund, lançado pelo Banco Santos em janeiro, chegou a ter 30 adesões por dia na época de vacas gordas. Agora Carlos Guerra, diretor da área que administra o fundo, comemora o fato de ter perdido apenas 90 entre os 700 clientes de sua carteira.

O ano não vem sendo favorável para os portfólios de ações, mas é pior para aqueles carregados de negócios virtuais. Poucos deles tiveram rentabilidade positiva nesse período ? a maioria entrou no círculo vicioso de operar no vermelho e perder investidores. Basta dar uma rápida olhada nas 16 carteiras listadas pela Associação Nacional dos Bancos de Investimentos (Anbid). No total, o patrimônio delas é de R$ 275,3 milhões. Por mais que se esforcem, os gestores mal conseguem acompanhar o resultado ruim do restante da bolsa – uma queda de 14% no Ibovespa desde o início do ano. O Sudameris Internet Ações perdeu 27,8% no mesmo espaço de tempo, o Santander Nov@ teve queda de 23,23% e o Votorantim Tecnologia, 19,7%

O fundo da Investidor Profissional, o IP.com, era um bom exemplo da euforia que varria o mercado de Internet alguns meses atrás. Ele abriu o capital em fevereiro deste ano, com R$ 50 milhões. As cotas foram lançadas na Bovespa a R$ 10 mil cada. Dois dias depois, no auge, fecharam a R$ 16,8 mil, sendo negociadas com picos de quase R$ 18 mil durante o dia. Hoje a cota vale R$ 7 mil. Ou seja o fundo, que valia R$ 50 milhões, hoje está avaliado pelo mercado em R$ 35 milhões. O surpreendente é que o IP.com investiu, direta e indiretamente, em quatro sites. O fundo ainda tem R$ 40,5 milhões no caixa, mais do que seu próprio valor de mercado. ?O preço de mercado obviamente não reflete o caixa, mas tenho certeza de que o mercado vai corrigir essa distorção?, acredita Ana Dantas, gestora do IP.com. O fundo da Investidor Profissional é de longa maturação. Quem investir só poderá sair após cinco anos. Apesar da baixa de preços, a IP manteve sua expectativa de rentabilidade em 35% ao ano.

O Oryx Internet FIF, administrado pela ClickInvest, chegou a ter um patrimônio de R$ 5 milhões em março deste ano. Após a retração da bolsa, ele encolheu para R$ 370 mil ? um tamanho treze vezes inferior ao de antes. A grosso modo, perdeu quase R$ 19 mil por dia, o equivalente a um carro modelo Gol 1.6. ?A Internet veio para ficar, não há dúvida sobre isso. Mas o investidor precisa ter paciência?, tenta argumentar Gabriel Jafet, administrador do fundo. Para fugir da armadilha do pontocom, a carteira, que poderia aplicar até 49% de seu patrimônio em ações, hoje não tem em seu poder um único papel negociado em bolsa. O patrimônio do Oryx Internet está todo aplicado em renda fixa, ou seja, em títulos do governo. Muito irônico para um fundo que continua com esse sobrenome. ?Vamos continuar assim até que o mercado acionário se recupere totalmente?, diz Jafet. Pode demorar.