A vida do investidor brasileiro já foi mais fácil. Em abril, quase todo mundo perdeu ou, no máximo, ganhou pouco da inflação. A maior surra foi na Bolsa de Valores. Em média, as ações caíram 11,45%. Mas mesmo aqueles investidores mais conservadores, que fogem correndo ao ouvir a palavra risco, também se deram mal. Boa parte dos fundos de renda fixa e DI, produtos tão populares quanto a caderneta de poupança, renderam menos do que os índices de preços. Por trás dos prejuízos, estão as tensões políticas em Brasília e o medo de uma retração na economia mundial. Os papéis brasileiros se desvalorizaram e afetaram as aplicações. Mas, mesmo nesse
cenário difícil, surgiu algum alívio para os investidores. Alguns
tipos de fundos blindaram as aplicações. E, na semana passada, o governo cedeu ao mercado financeiro e recomprou papéis para
aliviar a situação dos fundos.

O Tesouro decidiu recomprar quase R$ 1 bilhão em títulos da dívida do governo federal de longo prazo. Esses papéis são uma das principais bases de aplicações dos fundos de renda fixa e DI. Ao recomprar esses títulos, o governo espera que as aplicações se recuperem. Em abril, os fundos de renda fixa e DI perderam cerca de R$ 3 bilhões em saques. Com a ajuda de Brasília, a expectativa é que essas aplicações parem de afugentar os investidores. Mas dificilmente a situação voltará aos patamares do passado. Durante muito tempo, era possível conjugar bom rendimento com estabilidade nas aplicações. Com a tendência de queda de juros, essa fase acabou. E, com rendimentos menores, os fundos passaram a sentir mais os solavancos políticos e econômicos. ?Não há mais escolhas fáceis. Daqui para a frente, vai ser preciso escolher bem para ter algum ganho?, diz Jorge Simino, sócio da MS Consult.

A se julgar pelo desempenho do mercado financeiro desde o início
do ano, a boa surpresa para os investidores veio de uma categoria bem brasileira. São os fundos que rendem o equivalente à alta da inflação (índices IGP-M ou IPCA) mais algum ganho em juros. Desde janeiro, essa categoria rendeu 6,7%. É bem mais do que os 4,62%
do CDI (juros que os bancos cobram entre si). ?A procura por esses fundos tem crescido muito?, afirma Márcio Appel, superintendente
do Santander. Mas atenção: se a inflação cair, esses fundos perdem a blindagem e se tornam pior alternativa do que as tradicionais aplicações em renda fixa. A vida fácil do investidor, como no ano passado, em que quase todas as aplicações foram bem, acabou. ?Todos os fundos estão com baixo rendimento?, lamenta o inves-
tidor Robson Rabachini, que tem suas economias guardadas num fundo DI. ?Agora, não dá mais para relaxar, preciso ficar atento
para as opções de aplicações.?