A Academia Real de Ciências da Suécia anunciou, na semana passada, os vencedores do Nobel, o mais prestigiado prêmio internacional nas áreas de Ciências, Literatura e Economia ? este, concedido ao americano James Heckman (box), expecialista em desemprego. O mundo acompanhou atentamente a escolha de cada um deles, que além de uma medalha de ouro receberá um polpudo cheque de US$ 911 mil. O que poucos souberam é que a Fundação Nobel, que banca os prêmios, está preocupada com a administração do patrimônio que sustenta o evento. Responsável por uma fortuna de US$ 400 milhões, volume superior ao portfólio de bancos brasileiros como o BBM ou o Banestado, ela decidiu investir mais no mercado de ações. Por regulamento, ela só pode sacar até 3% do valor total, anualmente, para bancar as premiações e sustentar as instituições filantrópicas das quais participa. Como o patrimônio vinha crescendo em coroas, mas desvalorizando em dólares, o valor de cada prêmio caiu ? no ano passado, era de US$ 940 mil. ?Investiremos mais na bolsa. Aumentaremos nosso risco mas também as chances de ganho. E isso significa mais dinheiro para os premiados?, explicou Äke Alteus, diretor-financeiro da Fundação, em entrevista por telefone à DINHEIRO.

Apesar do otimismo de Alteus, o Mar Báltico não está para peixe. O índice OMX, das 30 ações mais negociadas na Bolsa de Estocolmo, acumula queda de 14,5% neste ano. Pior que em 1999, quando teve valorização de 70,9%. De qualquer maneira, parece melhor que a renda fixa. Inicialmente, era possível aplicar até 70% do patrimônio em renda variável. Agora, não há mais limite. ?Queríamos liberdade de aplicar o quanto quiséssemos, para aproveitar as ondas de alta da bolsa?, diz ele. Os recursos foram distribuídos por sete gestores na Europa e Estados Unidos. Bear Stearns, T. Rowe Price e Alliance Capital, nos EUA, administram parte do dinheiro investindo em fundos de tecnologia, empresas de segunda linha com alto potencial de crescimento e aplicações de longo prazo. Em Londres foram escolhidos o Carnegie Asset Management e o grupo Tictat. E na Suécia o Handelsbank, maior instituição financeira do País, e o Trazisa. No portfólio, não há nada em mercados emergentes, como o Brasil. ?Mark Mobius, do Templeton Asset Management, administrava uma parte do dinheiro em mercados emergentes. Infelizmente só tivemos prejuízo?, admite Alteus.

Neste ano, até agosto, os investimentos tiveram valorização de 13,5%. ?Tivemos sorte?, diz Alteus. A parcela que não é investida em ações vai para o mercado de títulos da dívida sueca, papéis conservadores que tradicionalmente têm rentabilidade inferior. Aplicando no mercado de capitais, a Fundação quer ao menos manter o valor dos prêmios estável, corrigido apenas pela inflação. Para este ano, a previsão é de que a taxa no país escandinavo fique entre 2% e 3%.

O Prêmio Nobel é uma homenagem ao industrial sueco Alfred Nobel, que fez fama e fortuna no século 18 com a mais célebre de suas 350 invenções: a dinamite. Desgostoso com o uso do explosivo como arma de guerra, ele deixou sua fortuna para a fundação que leva seu nome. Entre os laureados nos 100 anos de história estão o Nobel de Física Albert Einstein, o Nobel da Paz Nelson Mandela e o Nobel de Literatura José Saramago. Mas o prêmio, que se tornou uma grife no mundo científico, também produziu suas gafes. A maior delas é o americano Myron Scholes, ganhador do Nobel de Economia em 1997. Scholes apresentou ao mundo o mercado de derivativos, campo de altíssimo risco que poderia proporcionar ganhos enormes ou perdas abissais. Em 1998 ele e seus sócios quebraram o fundo americano Long Term Capital Management, num dos maiores escândalos financeiros dos Estados Unidos. Ele tinha uma dívida de US$ 4 bilhões que foi coberta graças a uma ?ajudinha? de 14 bancos, coordenados pelo FED, o banco central americano. Scholes escorregou no mercado de derivativos que ele mesmo criou.

SURPRESA NO RIO
Maria Di
Andrea Hagge

James Heckman, vencedor do Nobel de Economia deste ano, soube do prêmio no Rio de Janeiro, quando participava do seminário ?Pobreza e Desigualdade? na Fundação Getúlio Vargas. ?Fiquei surpreso. Achei que era brincadeira?, confessa. Heckman, que é professor da Universidade de Chicago e especializou-se em políticas de empregos e salários. Criou modelos econométricos que permitem estimar o quanto a duração do desemprego afeta as chances de conseguir uma nova colocação, ou qual a probabilidade de obter um novo emprego, em função da escolaridade. É um trabalho de economia aplicada, extremamente técnico, mas que sinaliza uma preocupação da academia sueca com os temas sociais. Heckman considera que a globalização, embora sacuda os países subdesenvolvidos num primeiro momento, é benéfica a longo prazo. Defende subsídio para trabalhadores que precisam de educação pós-escolar e investimentos pesados em formação de mão-de-obra em países como o Brasil. Entre seus alunos brasileiros, está Ricardo Paes de Barros, o diretor do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).