O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, foi detido nesta terça-feira pela manhã pela polícia de Londres e levado ante o tribunal em função de uma ordem de prisão das autoridades suecas por suspeita de estupro, anunciou a Scotland Yard em um comunicado, mas o site já anunciou que prosseguirá com a difusão dos documentos que enfurecem os a Estados Unidos..

O australiano, de 39 anos, cujo site está publicando milhares de telegramas diplomáticos confidenciais dos Estados Unidos, foi detido ao se apresentar à polícia às 9h30 locais (7h30 de Brasília). Em seguida, ele compareceu numa audiência com um juiz de primeira instância no tribunal de Westminster, no centro da capital britânica.

A justiça determinou que Assange ficará detido até o dia 14 de dezembro.

A polícia detalhou pela primeira vez as acusações contra Assange das autoridades suecas: “uma acusação de coerção ilegal, duas acusações de assédio sexual e uma de estupro, todas elas supostamente cometidas em 20 de agosto.

Os Estados Unidos, que consideram o fundador do WikiLeaks seu inimigo número um, celebraram a informação.

“Ainda não haviam me falado, mas parece uma boa notícia”, declarou o secretário de Defesa, Robert Gates, ao ser questionado pela imprensa em sua chegada a Fort Connolly, uma base militar americana situada no leste do Afeganistão.

As autoridades americanas ameaçam levar Assange aos tribunais pelo vazamento de documentos comprometedores de sua diplomacia, mas ainda não iniciara nenhuma ação.

O advogado britânico de Assange, Mark Stephens, anunciou nos últimos dias a intenção de lutar contra a extradição do cliente.

Stephens teme que uma vez concluído o caso na Suécia, Assange seja enviado aos Estados Unidos, onde a indignação cresce à medida que continuam sendo revelados os documentos comprometedores.

O cerco a Assange ganhou força nos últimos dias, com o fechamento dos servidores do WikiLeaks em vários países e de sua conta bancária pessoal na Suíça.

O WikiLeaks anunciou, no entanto, que dará prosseguimento à divulgação de telegramas diplomáticos confidenciais americanos, apesar da detenção em Londres de Assange.

“As ações de hoje (terça-feira) contra nosso editor chefe Julian Assange não afetarão nossas operações: divulgaremos mais telegramas esta noite, como de costume”, destacou a conta do WikiLeaks na página de ‘microblogs’ Twitter.

Um jornalistas que trabalha para o WikiLeaks declarou que os funcionários do site prosseguem com as tarefas habituais.

“Em termos do que está acontecendo, tudo continua segundo o previsto, tudo seguirá saindo como sempre”, declarou à AFP James Ball, que analisa documentos diplomáticos para o WikiLeaks.

A agência britânica responsável pelo combate ao crime organizado (SOCA) anunciou antes da detenção que, como acontece nestes casos, quando a pessoa que é objeto de uma ordem de prisão internacional comparece à presença do juiz recebe a opção de aceitar voluntariamente a extradição.

Em caso contrário, uma nova audiência é marcada para ouvir os argumentos das duas partes envolvidas. Depois o juiz se pronuncia sobre a extradição ou libertação.

Com as apelações previstas pela lei, que podem chegar à Suprema Corte, o caso pode durar meses.

A polícia britânica recebeu na segunda-feira uma nova ordem internacional de captura contra Assange emitida pela justiça sueca.

A Suécia emitiu a nova ordem na sexta-feira, depois que a imprensa britânica informou que a polícia inglesa sabia a localização de Assange, mas não podia efetuar a detenção por erros na redação do primeiro pedido.

O pedido afirma que a justiça sueca quer interrogá-lo “por suspeitas razoáveis de estupro, agressão sexual e coerção”. No dia 20 de agosto, uma mulher disse ter sido vítima de estupro e outra de agressão sexual por parte de Assange.

O advogado britânico do fundador do Wikileaks declarou no domingo à AFP que as acusações contra seu cliente pareciam ter “motivações políticas”.

A intensificação da busca por Assange coincidiu com o vazamento pelo WikiLeaks e cinco grandes jornais do mundo de milhares de documentos diplomáticos confidenciais dos Estados Unidos. As revelações provocaram a revolta dos Estados Unidos e de muitos países envolvidos.

O WikiLeaks publicou, por exemplo, na segunda-feira uma lista secreta explosiva dos lugares estratégicos no mundo que Washington deseja proteger de atentados, por considerar que a perda dos locais afetaria a segurança americana.

Mas Assange não tem apenas detratores. O renomado intelectual americano Noam Chomsky se uniu a um manifesto de jornalistas, advogados e escritores australianos para que a primeira-ministra da Austrália expresse um “apoio firme” ao fundador do WikiLeaks, que tem nacionalidade australiana.

“A retórica cada vez mais violenta contra Julian Assange gera graves preocupações com a segurança do fundador do WikiLeaks”, afirma a carta dirigida à chefe de Governo da Austrália, Julia Gillard.

ra/cn/fp