As incertezas políticas e econômicas no Brasil serão uma das barreiras para um movimento mais firme de diversificação dos investimentos dos fundos de pensão, dizem especialistas. A despeito do cenário de forte queda de juros, que coloca em xeque o principal ativo nas carteiras das fundações, os títulos públicos, a eleição de 2018 traz uma névoa que pode tornar o ritmo de alteração das carteiras mais lento. “Esse é um desafio aos fundos de pensão por conta da rentabilidade e a disposição a mais riscos no contexto de incertezas. E o regulador deve acompanhar essas mudanças”, destaca o economista da Tendências Consultoria, Gustavo Loyola.

Para Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos, por sua vez, a questão no momento é se o País será ambicioso para continuar a tocar as suas reformas. “Temos que ver se será essa a escolha ou se iremos pular de crise em crise, repetindo o passado. No entanto, acho que hoje temos mais maturidade para suavizar os ciclos econômicos e algumas lições foram aprendidas”, diz.

O diretor de investimentos e patrimônio da Funcesp, Jorge Simino, confirma que esse é um desafio enorme para os fundos de pensão, que precisarão sair da zona de conforto. “A questão fiscal é fundamental. As fundações terão que tomar mais risco de forma paulatina, porque as incertezas não são pequenas. O cenário melhorou muito, mas até estar em um caminho benigno tem uma distância”, afirma.

De acordo com dados da Abrapp, associação que representa os fundos de pensão, mais de 70% do patrimônio das fundações brasileiras está alocado em renda fixa, atingindo o maior patamar dos últimos anos. Se retirar da conta os três grandes fundos de pensão, Previ (Banco do Brasil), Petros (Petrobras) e Funcef (Caixa Econômica Federal) a prevalência da renda fixa é ainda maior.

“É extremamente relevante que a pauta de diversificação do portfólio retorne para a agenda das fundações, ainda que venha pelo caminho da necessidade. Ela tem que ser incorporada como pauta tática e estratégica para obtenção de bons resultados no longo prazo”, afirma o sênior advisor da BlackRock, Carlos Massaru.

Alternativa

Outro desafio, destaca Simino, da Funcesp, é a falta de opções no cardápio para investimentos. Citou, por exemplo, um mercado de debêntures sem liquidez no mercado secundário, que dificulta a saída do papel, e uma bolsa de valores no Brasil de volume pequeno, com setores que ainda não são representados na bolsa.

O vice-presidente de Investimentos da Sulamérica, Marcelo Mello, afirma que, mesmo que de forma cautelosa, os fundos já começaram a diversificar neste ano, mas nesse primeiro momento priorizando renda fixa ativa e os multimercados. “Ainda é um movimento conservador. A percepção é de que a reforma da Previdência ficou para o próximo governo, por isso quando a corrida eleitoral de 2018 ficar mais clara, deveremos perceber um movimento maior”, frisa o executivo.

De janeiro a julho os fundos multimercados registraram captação líquida de R$ 58,2 bilhões, parte considerável impulsionada pelos fundos de pensão, afirma.

Massaru, da BlackRock, lembra que na década de 90 houve um movimento de diversificação dos investimentos das fundações promovido pelas privatizações. “A diversificação por meio dos investimentos em infraestrutura e no exterior poderão representar as alternativas deste novo ciclo de juros baixos por aqui”, diz ele.