Uma das principais vertentes do mercado de tecnologia há mais de uma década, o chamado big data atrai cada vez mais a atenção e os investimentos de diversos setores da economia. No segmento de saúde, não é diferente. Esse é o caso da brasileira Funcional Health Analytics. Fundada em 1999, a companhia se especializou em duas vertentes: ferramentas de gestão dos benefícios de saúde concedidos pelas empresas aos seus funcionários e uma plataforma digital de relacionamento entre as indústrias farmacêuticas e seus canais de distribuição. Agora, a empresa está juntando essas duas pontas para ganhar corpo em uma terceira unidade de negócios. “Vamos reunir todos os dados que coletamos”, diz Paulo Magalhães, sócio e vice-presidente da unidade de farma da Funcional Health Analytics. “Estamos preparando terreno para sermos provedores de inteligência para todo o sistema de saúde privado no país.”

O novo modelo proposto pela Funcional envolve o cruzamento de uma série de informações. O pacote inclui desde os gastos de saúde dos funcionários de uma base de cem clientes corporativos até as interações entre as indústrias farmacêuticas clientes e mais de 70 mil farmácias cadastradas na rede da companhia. A partir dessa “montanha de dados”, o leque de aplicações é amplo. E envolve frentes como a identificação ou mesmo a projeção dos comportamentos de consumo do setor, as principais doenças, caminhos para a prevenção, eficiência de medicamentos e a oferta de subsídios para as renegociações de reajustes de planos de saúde. “Em cinco anos, esse deve ser o maior negócio da companhia”, afirma Bruno Della Monica, diretor financeiro da Funcional. Hoje, a receita da empresa está divida da seguinte forma: 50% vêm da área de farma, 40% do segmento corporativo e os 10% restantes da nova unidade. Em 2018, a companhia faturou R$ 100 milhões. Para esse ano, a projeção é de uma receita entre R$ 130 milhões e R$ 140 milhões.

TRANSFORMAÇÃO A estruturação da nova unidade dá sequência a uma estratégia de transformação da Funcional, iniciada em 2014. Uma das pontas desse processo foi a compra, na época, de 20% da Fidelize, que impulsionou a divisão de farma. No ano passado, a empresa assumiu o controle da operação ao adquirir os 80% restantes do negócio. As aquisições seguem no radar. O aumento da carteira de clientes, as sinergias em tecnologia e a ampliação da base de dados são alguns dos nortes desses movimentos. “Estamos tentando trazer mais informações para essa base, para entender melhor o comportamento da saúde privada no país”, explica Magalhães. Atualmente, a carteira da empresa cobre 4 milhões de vidas. Até o fim do ano, a expectativa é chegar a 4,5 milhões.

Com um investimento projetado de R$ 50 milhões para a operação nesse ano, o desenvolvimento de ofertas adicionais é mais um componente no escopo. Em junho, a empresa colocou no ar a plataforma Funcional no Balcão, que reúne proprietários, atendentes e profissionais de farmácia. Sob o conceito de rede social, a ferramenta investe em relacionamento, campanhas de engajamento, conteúdos sobre o segmento e abre espaço ainda para que as indústrias do setor acessem um marketplace com diversos estabelecimentos. Outra novidade no forno, prevista para chegar ao mercado entre o fim do ano e o começo de 2020, é uma conta digital, batizada de Funcional Pay, pela qual os parceiros poderão administrar serviços financeiros e mesmo suas próprias contas.

As aquisições e a ampliação do portfólio também passam pela aproximação com startups. Nessa frente, a Funcional está investindo na aceleração de algumas novatas. A estratégia pode incluir desde a incorporação da oferta ao leque da empresa até aporte financeiro. Esses foram os casos da Cuco Health, que desenvolveu um aplicativo que alerta o usuário sobre o momento de tomar ou comprar algum medicamento, e da BCare, especializada em programas de suporte a pacientes. “Estamos olhando um portfólio de dez startups com as quais pretendemos avançar para aquisição e aceleração”, diz Della Monica.

As startups não são o único alvo da Funcional quando olha além dos seus domínios. A empresa também planeja reforçar seus negócios no exterior. Hoje, a companhia já mantém um projeto público privado com o governo peruano, na área de seguro social, que demanda uma estrutura de 300 funcionários. O próximo ponto no mapa deve ser a Colômbia, onde já estão sendo mantidas conversações nos mesmos moldes da operação peruana. A previsão é de que a nova incursão seja colocada em prática no primeiro semestre de 2020.