A piora das expectativas com relação à economia brasileira pode ser questionada por ser uma percepção subjetiva. Porém, essa avaliação é endossada por uma fonte acima de qualquer suspeita: o Banco Central (BC), representado pelo Comitê de Política Monetária (Copom). Na terça-feira (10), o Copom divulgou a Ata de sua 246ª reunião, que elevou a taxa Selic para 12,75% ao ano.

Os membros do Copom foram claros. “A inflação ao consumidor segue elevada, com alta disseminada entre vários componentes, se mostrando mais persistente que o antecipado”, disse o texto. “As leituras recentes vieram acima do esperado (…) tanto nos componentes mais voláteis como nos mais associados à inflação subjacente.” A conclusão é que “a inflação tem contaminado as expectativas além do esperado”.

As contas públicas também preocupam. “[A] incerteza em relação ao futuro do arcabouço fiscal atual resulta em elevação dos prêmios de risco e aumenta o risco de desancoragem das expectativas de inflação (…) o que pode elevar a taxa de juros neutra da economia.” Em português de dia de semana: sem um esforço do governo para controlar os gastos, os juros vão continuar subindo e permanecer elevados.

INDICADORES À primeira vista, juros mais altos são uma panaceia para o investidor, pois elevam a rentabilidade das aplicações de renda fixa. No entanto, eles são um dos vários sintomas de que as coisas estão desajustadas na economia. Taxas mais salgadas indicam que os investidores estão pedindo remunerações maiores para correr os riscos de aplicar seu dinheiro. No caso brasileiro, outro indicador dessa percepção é o dólar. Em países desenvolvidos, com economias abertas, a taxa de câmbio é apenas um instrumento para regular as diferenças. Assim, se o dólar se aprecia ou deprecia em relação ao iene japonês, isso é uma questão que afeta os exportadores e importadores dos dois países e que é sentido apenas marginalmente pelos consumidores e investidores.

No caso do Brasil, o dólar é um dos principais indicadores de expectativas. E o caminho da moeda foi repleto de solavancos. O dólar encerrou 2021 a R$ 5,58, recuou para um mínimo de R$ 4,61 no início de abril (uma apreciação de 17%) e encerrou a quarta-feira (11) a R$ 5,12, alta de 11% em relação ao nível mais baixo do ano. Se um dólar que retorna a R$ 5,00 não é um sinal de fuga de divisas, é um indicador forte de que os recursos externos pararam de chegar.

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“A alta dos juros afeta as economias emergentes e torna os títulos americanos mais atrativos para os investidores” Sidney Lima analista da empresa de pesquisas Top Gain.

Outro indicador da percepção dos investidores são as ações. O Ibovespa encerrou a quarta-feira (11) a 104.397 pontos, alta de 1,2% ante a véspera, puxado pelas ações da Petrobras e da Vale. Mesmo assim, no acumulado do ano a queda é de 0,4%. E em relação ao pico de 2022, os 121.500 pontos do início de abril, a queda é de 14%.

O que alterou as perspectivas, além das preocupações internas, foi a piora do cenário externo. A inflação americana segue nos níveis mais elevados em quatro décadas, o que vem forçando o Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, a elevar os juros. Não por acaso, na quarta-feira (11), a remuneração dos títulos de dez anos do Tesouro americano chegou a 2,925% ao ano, nível mais alto desde abril de 2018. Para o analista de empresa independente de pesquisa Top Gain, Sidney Lima, “a alta dos juros é uma das armas mais eficientes ao combate à inflação”.

Porém, essa política do Fed tem uma contrapartida danosa para o Brasil. “Ela afeta as economias emergentes e torna os títulos americanos mais atrativos para os investidores, que começam a rever suas posições em ativos brasileiros”, disse Lima. A mudança dos juros também provoca solavancos nos preços devido à migração dos ativos, segundo o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez. “A bolsa acaba sendo preterida, o dólar sobe, mas a renda fixa torna-se muito atraente”, disse. “Houve uma rotação natural das posições, devido ao avanço da taxa de juros.”

Não é possível dizer que a alta do dólar e a queda das ações signifiquem uma catástrofe sobre os preços e para a economia. No entanto, o mercado funciona como uma caixa de ressonância de expectativas e como um elemento que antecipa tendências. E, na avaliação dos especialistas, o sinal mudou para o amarelo.