EM 1929, NA GRANDE DEPRESSÃO mundial, corridas de carros eram uma diversão para ricos aventureiros. Hoje, são um esporte bilionário, com uma miríade de categorias, sendo que, entre todas, a F-1 é a mais charmosa e rica – e será a mais prejudicada pela ressaca do mercado internacional. No último dia 5, a crise fez sua primeira vítima de peso, com o anúncio de que a montadora japonesa Honda irá abandonar a categoria. Foi o estopim para a discussão sobre como reduzir os custos do circo da F-1. No caso da Honda, o investimento na F-1 é relativamente pequeno, se comparado às suas receitas. A empresa, porém, precisava dar uma resposta à queda de 40,8% no lucro líquido, registrada em seu último balanço. Foi um choque para o esporte que movimenta US$ 3,9 bilhões anuais, de acordo com um estudo da Deloitte. Segundo a consultoria, cada corrida gera, em média, um faturamento de US$ 217 milhões, fora o movimento na economia da região onde a prova se realiza. A Prefeitura de São Paulo calcula que o GP do Brasil deixe na cidade algo perto de R$ 230 milhões.

A Honda, cujos pilotos eram Rubens Barrichelo e Jeson Button, era inteiramente bancada pela montadora japonesa. Mesmo assim provocou impacto em outras empresas, como a Petrobras. Era quase certo que a estatal brasileira seria fornecedora de gasolina para o time japonês em 2009, pois o contrato com a Williams se encerra neste mês. “Dificilmente poderemos mudar para outra equipe nesse momento”, disse o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli. A saída da Honda serviu para que Max Moseley, presidente da Federação Internacional de Automobilismo (FIA), voltasse à carga em sua campanha para tornar a F-1 mais barata. Algumas equipes chegam a administrar orçamentos superiores a US$ 300 milhões por ano. Por isso, Moseley acredita que elas precisam se reinventar para sobreviver, sobretudo aquelas vinculadas diretamente às montadoras, duramente atingidas pela crise.

Duas equipes de montadoras, a japonesa Toyota e a alemã BMW, já afirmaram que não abandonarão a F-1. “A relação custo-benefício é muito positiva”, afirmou Klaus Draeger, do conselho da empresa alemã. Ainda assim, o corte de custos terá de ser feito. “Nosso orçamento vem do dinheiro pago pelas empresas para anunciar em nossos carros, e esses valores serão cortados devido à crise”, diz Ron Dennis, dono da McLaren. Em 2009, os gastos da equipe cairão de £ 280 milhões para £ 175 milhões. Na Ferrari a situação não é diferente. “A redução nas despesas já vinha acontecendo. Agora, no entanto, isso será acelerado”, diz o chefe da equipe, Stefano Domenicali. Entre suas propostas, Moseley inclui soluções radicais e controversas, como a diminuição de salários de pilotos e a adoção de um fabricante único de motores. A Ferrari ameaçou se retirar da F-1, se esta última proposta se concretizar.

Outra forma de reformar a F-1, defende Moseley, seria elevar as receitas das equipes. Para isso, ele quer pressionar a Formula One Management (FOM, entidade controlada por Bernie Ecclestone e dona dos direitos sobre a categoria), para que aumente a fatia do bolo que é repassado às equipes. Autódromos e pilotos “modestos”, porém, ficam de fora das propostas da FIA, embora não sejam menos afetados pela crise. Por problemas financeiros, o Canadá e a França não organizarão corridas em 2009 e o circuito de Hockenheim pode não receber mais a etapa alemã, depois de perder 5,3 milhões com a prova deste ano. Entre pilotos com menos quilometragem na F-1, a dificuldade tem sido a renovação de patrocínio. “Estou em busca, mas por causa da crise, está difícil encontrar dinheiro. E isso não acontece só na França”, diz o piloto francês Sébastien Bourdais, que correu em 2008 pela Toro Rosso. Na verdade, toda a F-1 está atrás desse dinheiro, que teima em se esconder em tempos de crise.