O ex-presidente do Banco Central (BC) e sócio da Rio Bravo Investimentos, Gustavo Franco, disse nesta terça-feira que enxerga espaço para o crescimento de uma terceira via nas eleições de 2022, mas afirmou que esse espaço pode ser tomado pela moderação dos discursos dos dois principais candidatos ao pleito, o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“Temos uma demanda no País de moderação, de terceira via”, disse Franco, durante evento organizado pela Empiricus. “Isso, todavia, pode acontecer pelo surgimento de um novo personagem na corrida eleitoral ou por uma desradicalização, despolarização, dos extremos”, completou o economista, para quem existe uma “maioria silenciosa” de centro no País.

Para Franco, não há imediatamente um indicativo de moderação dos discursos de Lula ou Bolsonaro, mas ambos os candidatos guardam na manga a possibilidade de caminhar para o centro, se necessário. “Eu não vejo sentido para que hoje Lula ou Bolsonaro se pronunciem com compromissos de moderação, mas esse é um botão que eles podem apertar a qualquer momento, quando se sentirem ameaçados por alguém que ocupe o espaço do centro”, avaliou.

Também presente no evento, o ex-ministro da Fazenda e ex-presidente da autoridade monetária Pedro Malan afirmou que uma terceira via ainda pode ser construída ao longo dos próximos meses, mas exige a criação de uma alternativa “crível e competitiva” e que possa chegar ao segundo turno. De acordo com o economista, também é importante evitar uma fragmentação excessiva do centro, que teria levado ao cenário observado em 2018.

De acordo com Malan, o cenário para a terceira via deve ficar mais claro apenas em meados do ano que vem, quando os partidos vão realizar as convenções partidárias. “Eu acho que isso é possível, eu fico às vezes um pouco preocupado com a ansiedade de muitos que a essa altura já queriam que fosse muito claro”, afirmou.

Pouco apelo

Para o ex-ministro do Trabalho Edward Amadeo, que também participou da mesa, a plataforma eleitoral de centro deve ter pouco apelo para o eleitorado. “Eu acho difícil, em um País tão polarizado no qual a população está tão descrente e que a renda per capita tem caído 10% nos últimos cinco ou seis anos, que você, com uma plataforma eleitoral de centro, vá ter uma atratividade para o seu voto. Acho que os jovens e os mais pobres dificilmente vão se sensibilizar com um discurso de prudência fiscal”, disse.