O tabuleiro de estratégias das maiores redes supermercadistas do País começa a ganhar uma nova configuração – e a peça principal é o “atacarejo”, um modelo híbrido de loja que une preços de atacado e a conveniência do varejo. Assim como tem feito o Big (ex-Walmart e controlador do clube de compras Sam’s Club) e Grupo Pão de Açúcar (dona da marca Assai), a operação brasileira do Carrefour está determinada não perder espaço na guerra pelo mercado. Na semana passada, a companhia francesa concluiu a aquisição de até 30 lojas da rede Makro no País. A compra faz parte da estratégia do grupo para acelerar significativamente a expansão da bandeira Atacadão e reforça o plano multiformato e multicanal do grupo. “A transação é o movimento mais importante do Grupo Carrefour no Brasil desde a aquisição do Atacadão em 2007”, afirmou Alexandre Bompard, presidente do Conselho de Administração e CEO do Grupo Carrefour, em nota. “O modelo de atacado tem sido um grande contribuinte para o crescimento do Carrefour nos últimos anos, especialmente no Brasil. Com essa transação, iremos expandir nossa presença no mercado brasileiro, o segundo maior mercado para o grupo depois da França.”

As novas lojas foram adquiridas pelo valor de R$ 1,95 bilhão. Segundo o Carrefour, dos 30 endereços, 22 são propriedade integral e oito são alugados, além de 14 postos de gasolina, localizados em 17 Estados. As lojas adquiridas, que somam 165 mil m² de área de venda, apresentaram em 2019 vendas brutas de R$ 2,8 bilhões e, de acordo com a empresa, possuem grande complementaridade geográfica com as lojas já existentes do Atacadão. A transação permitirá ao Atacadão expandir sua presença no Estado do Rio de Janeiro, com sete lojas, e na região Nordeste, onde estão oito unidades. Os novos pontos de venda se somam às 187 lojas já existentes do Atacadão. “Isso evidencia nosso comprometimento com a expansão de nossos formatos de crescimento e está em linha com o Plano de Transformação do Carrefour 2022”, disse Bompard. Globalmente, o Grupo Carrefour faturou € 80,6 bilhões em 2019, com 12 mil lojas em 30 países.

ATACAREJO: Lojas Makro serão convertidas em Atacadão. (Crédito:Divulgação)

Nos próximos 12 meses, essas lojas que funcionam sob a bandeira Makro – que manterá 24 unidades em São Paulo – receberão a marca Atacadão. Pelos cálculos do Carrefour, baseado no modelo do Atacadão, as vendas devem aumentar em mais de 60% e a estrutura de custos será otimizada, possibilitando o alcance gradual de níveis de rentabilidade similares aos existentes nas lojas atuais. “Esta transação é um acelerador de crescimento para o Carrefour no Brasil. Com essa aquisição, o Atacadão vai fortalecer sua presença geográfica e consolidar ainda mais sua presença nacional”, garantiu Noël Prioux, CEO do Grupo Carrefour Brasil.

A conclusão do negócio ainda depende de um acordo com os proprietários de oito lojas alugadas e a aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). O fechamento da operação é esperado para o final deste ano. Os desafios, no entanto, não se limitam a isso. Embora o Makro seja o terceiro maior atacarejo brasileiro, atrás apenas de Carrefour e GPA, vinha registrando resultados anêmicos nos últimos anos. Segundo a Eleven Research, o crescimento médio de receita do Makro no Brasil no período entre 2013 e 2017 foi de apenas 3%, enquanto o Atacadão mostrou uma evolução de vendas mais que três vezes superior a este percentual no mesmo período. “Não está claro se o controlador (o grupo holandês SHV) pretende vender as outras lojas que opera na América Latina (total de 167 lojas com presença na Argentina, Venezuela e Peru) ou até mesmo o restante das lojas no Brasil. Porém, é claro que Brasil era a operação onde encontrava maior competição”, disse a corretora, em relatório.

Na avaliação do Credit Suisse, a transação precisa ser vista com cautela. Pela projeção do banco, as lojas adquiridas operam com margens Ebitda negativas. O último dado disponível, de 2017, indicava que as margens do Makro eram negativas em 0,5% e as lojas mais lucrativas do Makro estariam no Estado de São Paulo. Assim, as unidades adquiridas, todas fora do mercado paulista, estariam entre as de pior rentabilidade da empresa.