Antes do anúncio oficial do fim do primeiro turno da eleição presidencial na França, o líder do partido centrista Em Marcha!, Emmanuel Macron, e a ultradireitista da Frente Nacional, Marine Le Pen, deram início às suas campanhas para o segundo turno. Até o próximo dia sete de maio, eles terão de convencer os quase 47 milhões de eleitores e descobrir qual mudança eles mais precisam para os próximos cinco anos: o populismo de Le Pen ou o ar jovial pró-União Europeia de Macron? O que os franceses mostraram, até aqui, é a importância da renovação. Pela primeira vez, os partidos mais tradicionais não chegaram ao segundo turno.

Os Republicanos afundaram com os escândalos envolvendo François Fillon e o Socialista teve um resultado inexpressivo nas urnas, mesmo estando no comando do país. François Hollande, aliás, foi o primeiro presidente da França a abdicar de tentar a reeleição. “A ida de dois outsiders ao segundo turno sugere que muitos eleitores se cansaram da retórica e do comportamento dos políticos das alas da direita e da esquerda”, diz o francês Tawfik Jelassi, professor da escola de negócios suíça IMD. “Acredito que será cada vez mais comum na Europa candidatos como Emmanuel Macron, que une a juventude com o pragmatismo.”

François Hollande: com baixa popularidade, presidente não se candidatou ao segundo mandato
François Hollande: com baixa popularidade, presidente não se candidatou ao segundo mandato

Ex-ministro de finanças de Hollande, Macron lidera as pesquisas de intenção de votos, com 63%. Ele recebeu apoio maciço dos candidatos derrotados, inclusive do presidente, e há uma grande expectativa pela migração de votos para o Em Marcha! (leia o quadro ao final da reportagem). Os riscos de uma vitória de Le Pen são menores, mas existem e preocupam. O que favorece o candidato centrista é seu discurso pró-mercado e em defesa da União Europeia. Uma das principais propostas de Macron é a atração de € 50 bilhões em investimentos. Pesquisas junto à classe empresarial mostram o otimismo com relação ao nome dele.

Por ser favorito entre o empresariado, a confiança dos executivos saltou para o maior nível nos últimos seis anos quando o cenário apresentado era Macron na presidência. O menor nível aconteceu justamente quando a vitoriosa era sua adversária. “Os candidatos têm apenas duas semanas para convencer os eleitores franceses”, diz Marcus Vinicius de Freitas, professor de Relações Internacionais da FAAP. “Quem votar com medo do protecionismo escolherá o Macron. Os que forem votar com raiva irão optar por Le Pen.”

Mesmo com essa distância nas intenções de voto, uma virada de Le Pen não pode ser descartada. A crescente crise migratória europeia ampliou a força dos discursos nacionalistas antiglobalização. Em 2012, o desemprego e a atividade econômica foram determinantes para os eleitores escolherem seu candidato, aponta o Institute of International Finance, de Washington (EUA). Neste ano, os franceses passaram a considerar mais as políticas de imigração e as medidas de segurança contra atentados terroristas. Em 2016, a França recebeu 83 mil refugiados e pedidos de asilo.

A líder de extrema direita promete limitar a entrada de imigrantes no país para até 10 mil pessoas ao ano. As chances dela estão nessa ala da população mais cética à política migratória da União Europeia e na classe operária francesa. Sua outra bandeira é fazer um referendo para avaliar a permanência ou a saída do país do bloco europeu, como fez a Inglatera. O chamado “Frexit”, porém, traria um custo de € 30 bilhões ao ano para a França com aumento de desemprego, alta na inflação e fuga de investimentos, segundo o Banco Central Europeu, e o risco de insolvência de até 30% nas empresas, calcula a seguradora de riscos de crédito Coface.

Alvo dos terroristas: capital francesa tem sido palco constante de ataques do Estado Islâmico. O medo ao terror faz com que o discurso nacionalista de Le Pen ganhe força
Alvo dos terroristas: capital francesa tem sido palco constante de ataques do Estado Islâmico. O medo ao terror faz com que o discurso nacionalista de Le Pen ganhe força (Crédito:Thomas Samson / AFP)

Os últimos ataques terroristas no país aguçam os discursos xenófobos e separatistas. “Mesmo se Le Pen for eleita, um Frexit não seria automático. A França tem muito a perder”, diz Maurits van Rooijen, reitor da London School of Business and Finance, de Londres. “Os mercados subiram com os resultados da primeira rodada, pois ele sugeriu que o voto pró-europeu na França ainda é significativamente maior do que o voto antieuropeu.” As propostas tanto de Macron como de Le Pen só serão bem-sucedidas se conseguirem fazer a França apresentar um crescimento econômico melhor do que o registrado nos últimos anos. Segunda maior economia da Europa, atrás da Alemanha, o país é peça-chave para as decisões comerciais do bloco. No entanto, a retomada de sua economia está mais lenta que o previsto e vem frustrando os analistas.

Em 2016, as projeções mostravam uma alta de 1,4% do Produto Interno Bruto (PIB), mas o país registrou uma expansão de 1,1%, para US$ 2,4 trilhões. Esse enfraquecimento fez com que o desemprego superasse os 10% da população e pegasse, justamente, o público jovem. Uma em cada quatro pessoas com menos de 25 anos está desocupada. “Em geral, o país ainda passará por algumas incertezas até junho”, diz Julien Marcilly, economista-chefe mundial da Coface. “As eleições parlamentares são tão importantes quanto as presidenciais. Porém, caso Macron seja eleito, a expectativa é de uma melhora de 1,2% na insolvência das empresas na França.”

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