O primeiro-ministro da França, Edouard Philippe, disse nesta sexta-feira (6) que os franceses terão de “trabalhar mais tempo”, como já acontece “em outros países”, em meio à queda de braço pela polêmica reforma da Previdência Social promovida pelo governo Macron.

“Nossos concidadãos (…) sabem que, progressivamente, teremos que trabalhar um pouco mais de tempo, mas é o que já acontece em outros países comparáveis à França”, declarou Philippe em discurso transmitido pela televisão.

A França enfrenta nesta sexta-feira o segundo dia de greve em protesto contra a reforma do sistema de Previdência planejada pelo governo do presidente Emmanuel Macron, que na véspera levou mais de 800.000 pessoas às ruas em todo o país.

Na quinta-feira, primeiro dia da paralisação nacional, considerada um teste crucial para Macron e sua agenda reformista, foram registrados protestos em mais 70 cidades, assim como greves que paralisaram os transportes públicos e fecharam as escolas.

A sexta-feira apresenta um cenário similar, com quase todas as viagens de trens de longa distância canceladas, a maioria das linhas de metrô de Paris fechadas e centenas de voos cancelados.

Yves Veyrier, líder do sindicato FO, advertiu que a greve nos transportes pode prosseguir até segunda-feira se o governo não adotar as medidas adequadas.

E para manter a pressão sobre o Executivo, os sindicatos convocaram um novo dia de greve para terça-feira.

Às 8H00 de sexta-feira, as autoridades registraram 340 quilômetros de engarrafamentos nos acessos à capital.

Assim como na véspera, a empresa nacional de trens SNCF cancelou 90% das viagens de longa distância e 70% dos trajetos com trens regionais.

Os parisienses precisaram novamente de paciência para chegar ao trabalho. Nove das 16 linhas de metrô permanecem fechadas, cinco funcionam com a capacidade reduzida e apenas duas, completamente automatizadas, funcionam de maneira normal.

Apesar da baixa temperatura, muitos parisienses usaram suas bicicletas ou recorreram ao sistemas gratuitos de bicicletas ou patins elétricos. Outros compartilharam carros ou decidiram trabalhar de suas casas.

Na educação a situação era melhor que na véspera. Muitos professores retornaram às aulas nesta sexta-feira. Também voltaram a funcionar normalmente vários monumentos, como a Torre Eiffel, ou museus, como o Louvre.

A companhia Air France cancelou pelo segundo dia consecutivo 30% dos voos domésticos e 10% dos voos de média distância. O Eurostar, trem que cruza o Canal da Mancha, também deve ter viagens canceladas.

Os jornais de tiragem nacional não conseguiram publicar suas edições impressas e sete das oito refinarias do país estão em greve, o que aumenta o risco de falta de combustível se a mobilização continuar por mais dias.

A indignação popular foi motivada pela nova reforma da Previdência preparada pelo governo de Macron, uma promessa de campanha que tem como objetivo eliminar os 42 regimes especiais que existem atualmente e que concedem privilégios a determinadas categoria profissionais.

O governo pretende estabelecer um sistema único, por pontos, no qual todos os trabalhadores terão os mesmos direitos no momento de receber a aposentadoria.

Para o governo, este é um sistema mais justo e mais simples. Mas os sindicatos temem que o novo sistema adie a aposentadoria, atualmente aos 62 anos, e diminua o nível das pensões.

Macron, que estabeleceu como objetivo apresentar a reforma ao Parlamento no início de 2020, declarou na quinta-feira estar “determinado” a levar o projeto adiante.

O primeiro-ministro, Edouard Philippe, afirmou que vai apresentar as “grandes linhas” da reforma na próxima semana, pois até o momento não foi divulgado o conteúdo final da reforma.

Mas antes, na segunda-feira, a ministra da Solidariedade e Saúde, Agnès Buzyn, e o alto comissário para as pensões, Jean-Paul Delevoye, receberão os sindicatos para “negociar” vários pontos em uma reunião de último minuto anunciada nesta sexta-feira por Buzyn.

“Nós ouvimos a revolta dos franceses”, disse, em referência aos protestos de quinta-feira, dando a entender que o Executivo pode fazer algumas concessões.

De acordo com uma pesquisa, 62% dos franceses apoiam a greve e 75% criticam a política econômica e social do governo Macron.