Três pessoas morreram, entre elas uma brasileira, nesta quinta-feira (29) em um ataque a faca que deixou vários outros feridos em uma igreja no centro da cidade de Nice, sudeste da França, descrito pelo presidente Emmanuel Macron como um “ataque terrorista islamita” em um país que está em alerta máximo.

À noite, o Ministério das Relações Exteriores, em Brasília, informou que entre os mortos está uma brasileira.

“O Governo brasileiro informa, com grande pesar, que uma das vítimas fatais era uma brasileira de 40 anos, mãe de três filhos, residente na França”, informou o Itamaraty em um comunicado.

“O Presidente Jair Bolsonaro, em nome de toda a nação brasileira, apresenta suas profundas condolências aos familiares e amigos da cidadã assassinada em Nice, bem como aos das demais vítimas, e estende sua solidariedade ao povo e Governo franceses”, acrescentou a nota.

O governo brasileiro expressou, ainda, “seu firme repúdio a toda e qualquer forma de terrorismo, independentemente de sua motivação” e manifestou “em especial sua solidariedade aos cristãos e pessoas de outras confissões que sofrem perseguição e violência em razão de sua crença”.

Segundo informações da imprensa brasileira, a vítima se chamava Simone Barreto Silva e morava na cidade francesa há 30 anos.

A brasileira ficou gravemente ferida no ataque à basílica. Ela conseguiu fugir para um bar vizinho ao templo, mas morreu pouco depois, informaram à AFP fontes policiais.

“Digam a meus filhos que eu os amo”, teria conseguido dizer pouco antes de morrer, segundo depoimentos de testemunhas divulgados pelo canal BFMTV.

Mais cedo, em meio a um clima de tensão diplomática com líderes políticos e religiosos de países muçulmanos e após a decapitação de um professor por um extremista islâmico há duas semanas, o presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou: “Não cederemos nem um milímetro” na defesa dos valores franceses.

Além do ataque em Nice, um guarda do consulado francês da cidade saudita de Jidá foi ferido em outro ataque e um afegão foi detido na cidade francesa de Lyon por portar uma faca. Tudo isso no mesmo dia.

O agressor de Nice, um migrante tunisiano de 21 anos que chegou à França no início do mês depois de passar pela ilha italiana de Lampedusa, invadiu às 9h locais (5h de Brasília), armado com uma faca, a basílica de Notre-Dame de l’Assomption (Nossa Senhora da Assunção), no centro desta cidade da Riviera Francesa de pouco mais de 500.000 habitantes, que há quatro anos foi cenário de um atentado que deixou 86 mortos.

Segundo fontes próximas à investigação, o agressor se chama Brahim Aouissaoui e gritou várias vezes “Allahu Akbar” (Deus é grande). O criminoso foi ferido por tiros durante a intervenção policial e levado para o hospital.

As outras duas vítimas do ataque foram assassinadas dentro da basílica: uma idosa, degolada pelo atacante, que tentou decapitá-la, e o sacristão da basílica, um laico de 45 anos, casado e pai de duas meninas.

O jovem tunisiano autor do ataque chegou à França no começo de outubro. Ele estava em Lampedusa, porto comum para os imigrantes sem documentação, aonde chegou no final de setembro. Foi posto em quarentena pelas autoridades italianas e depois foi liberado com ordem de abandonar o território.

Em meados do mês, o professor de história Samuel Paty foi decapitado por um refugiado russo checheno por ter mostrado aos seus alunos caricaturas do profeta Maomé em uma aula sobre liberdade de expressão.

O governo francês elevou o nível de segurança em todo o país para “urgência de atentado”, que corresponde a um estado de alerta máximo, e aumentou de 3.000 para 7.000 os militares que patrulham as ruas, para proteger especialmente os locais de culto às vésperas da festa católica de Todos os Santos, no domingo.

Após condenar o atentado, o governo tunisiano anunciou a abertura de uma investigação.

– ‘Liberdade de culto sob ataque’ –

Diante deste novo atentado, “a emoção do país está no auge”, declarou o primeiro-ministro Jean Castex, segundo o qual, “depois da liberdade de expressão, hoje é a liberdade de culto e a liberdade de consciência que estão sendo atacadas”.

Daniel Conilh, um garçom de uma cafeteria próxima à igreja, contou à AFP como foram os minutos de pânico posteriores ao ataque.

“Uma senhora veio diretamente da igreja e nos disse ‘corram, corram, alguém atacou (com uma faca), haverá tiros, tem gente morta!'”, contou.

“Vi o cara (o agressor) entrar na catedral. Depois, ouvi muitos tiros”, disse à AFP Aurélien Thibault, outra testemunha do ataque.

Fora da França, as reações de condenação ao ataque se multiplicaram. O Vaticano considerou que “o terrorismo e a violência nunca poderão ser aceitos”.

A Turquia, que criticou energicamente a publicação das caricaturas do profeta Maomé na França, também condenou este ataque “selvagem” e expressou sua “solidariedade ao povo francês”.

Da Sacré Coeur (Sagrado Coração) de Paris à Igreja Talence, em Bourdeaux, os sinos de todos os templos católicos ressoaram às 15h locais (11h de Brasília) em homenagem às vítimas do ataque.

O presidente americano, Donald Trump, exigiu que os “ataques terroristas” parem “imediatamente”.

“Este ataque foi direcionado a paroquianos comuns que foram rezar em silêncio”, disse o monsenhor Eric de Moulins-Beaufort, presidente da Conferência Episcopal Francesa.

“Posso apenas condenar energicamente a covardia deste ato contra pessoas inocentes”, disse Abdallah Zekri, delegado geral do Conselho Francês da Fé Muçulmana (CFCM).

Os deputados franceses, que debatiam um novo confinamento nacional decidido na véspera e que entrará em vigor à meia-noite desta quinta-feira, respeitaram um minuto de silêncio quando foram informados sobre o ataque.

Já o ex-primeiro-ministro malásio, Mahathir Mohamad, escreveu no Twitter que os muçulmanos têm o direito “de matar milhões de franceses”, mas a mensagem foi retirada posteriormente pela rede social a pedido da França.

A França sofre com atentados terroristas de alto impacto desde 2015, quando um ataque extremista em 7 de janeiro contra o semanário satírico Charlie Hebdo deixou 12 mortos. No dia 13 de novembro do mesmo ano, um comando jihadista executou ataques coordenados em Paris que mataram 130 pessoas.

O julgamento sobre o violento atentado contra o Charlie Hebdo, no qual morreram alguns dos chargistas mais famosos da França, está em curso atualmente em Paris.

Coincidindo com a abertura do julgamento, a revista voltou a publicar as caricaturas de Maomé que a transformaram em alvo dos jihadistas, o que provocou críticas no mundo muçulmano.