Os franceses continuaram neste domingo pelo segundo dia consecutivo com seus protestos contra a alta dos impostos sobre os combustíveis e contra a política do governo que prejudica o poder aquisitivo, em várias cidades do país.

Foram registrados, em várias regiões da França, cortes de rotas e autopistas, constatou a AFP.

O movimento dos “coletes amarelos”, uma referência à jaqueta que os motoristas devem usar para ter maior visibilidade em caso de acidente na França, protesta contra a alta do preço dos combustíveis e um imposto ecológico e tem o apoio de 73% dos franceses, segundo o instituto de opinião Elabe.

O primeiro-ministro, Edouard Philippe, disse neste domingo à noite ter escutado a “irritação” e o “sofrimento” mas afirmou que seu governo manterá “o rumo”.

Philippe reafirmou os compromissos do presidente Emmanuel Macron de reduzir as contribuições obrigatórias para que o trabalho pague melhor, embora seja necessário, para isso, taxar a poluição.

“O rumo que estabelecemos é um bom rumo e vamos mantê-lo”, afirmou.

O presidente Macron não se pronunciou sobre as manifestações. Neste domingo estava em Berlim.

O ministro da Transição Ecológica, François de Rugy, indicou ao jornal Le Parisien que o governo seguiria “a trajetória prevista” em termos de tributação ecológica.

No sábado, 290.000 pessoas se manifestaram em 2.034 lugares contra os impostos aos combustíveis e a redução do poder aquisitivo, bloqueando estradas, supermercados e levantando as barreiras dos pedágios.

Segundo cálculos da polícia, no domingo houve 46.000 manifestantes em todo o país.

No segundo dia de manifestações uma pessoa ficou gravemente ferida, em Saint-Quentin (norte), quando um dos motoristas forçou passagem em um das zonas bloqueadas pelos coletes amarelos, indicaram diferentes fontes. Na véspera, uma manifestante de 63 anos morreu morreu atropelada por uma motorista.

Até o momento, mais de 400 pessoas ficaram feridas, 14 com gravidade, e 282 foram presas.

Os protestos de sábado continuaram à noite, com cerca de 3.500 pessoas mobilizadas “em 87 lugares diferentes”, informou na manhã deste domingo o ministro do Interior francês, Christophe Castaner.

No sábado os coletes amarelos conseguiram se concentrar perto do Palácio do Eliseu, sede da presidência francesa, onde as forças de segurança utilizaram gases lacrimogêneos.

Apesar de não conseguirem paralisar toda a França, o país se viu afetado por suas ações, organizadas sem a presença de partidos políticos e sindicatos.

O governo francês anunciou na quarta-feira medidas para ajudar as famílias mais pobres a cobrir os gastos com energia, mas manteve o imposto sobre o combustível que desencadeou esse protesto.

“Nós não vamos anular o imposto sobre as emissões de carbono, não vamos mudar de curso, não vamos desistir de fazer frente ao desafio” da mudança climática, disse o primeiro-ministro durante a semana.

O novo imposto começará a ser aplicado em 1º de janeiro de 2019 e envolverá um aumento de 6,5 centavos de euro por litro de gasóleo e 2,9 centavos por litro de gasolina.

O governo também anunciou um bônus de até 4.000 euros para incentivar 20% das famílias mais pobres a trocar de carro e comprar uma versão menos poluente. Até agora, o bônus era de até 2.500 euros para trocar o carro antigo.

No mesmo dia do anúncio, o presidente Macron fez um mea culpa sem precedentes, admitindo que não conseguiu “reconciliar o povo francês com seus líderes” e prometeu uma “reconciliação entre a base e o topo” do país.