As doses fracionadas da vacina contra a febre amarela para a imunização de toda a população do Estado de São Paulo devem começar a ser aplicadas no próximo mês, segundo a Secretaria de Estado da Saúde. Desde janeiro do ano passado, foram contabilizados 29 casos autóctones da doença e 13 mortes no Estado.

“O que vai acontecer de diferente é o fracionamento a partir de fevereiro, que vai dar uma cobertura maior do que a que temos hoje. Mas a vacinação já estava sendo feita e não paramos de vacinar”, afirma Marcos Boulos, coordenador de Controle de Doenças da secretaria.

Segundo Boulos, o processo será feito em etapas, com a prioridade passando das áreas com maior risco de infecção, onde há a circulação do vírus, para as regiões onde a doença pode chegar, a exemplo da região da Serra do Mar. “Pessoas que vivem em regiões onde podem ocorrer casos, que têm o (mosquito) haemagogus e o macaco, serão vacinadas. Como tivemos casos de febre amarela no Rio e, muito provavelmente vai chegar aqui, temos de proteger as regiões receptivas. Onde não tem a emergência total vai ser a última a receber a vacina.” Um exemplo deste último caso seria a região central da capital.

A confirmação da terceira morte por febre amarela na Grande São Paulo não vai alterar em nada a estratégia de prevenção da doença, afirmou o secretário de Estado da Saúde, David Uip. “A decisão de vacinar todo o Estado já havia sido tomada. Vamos seguir o plano”, completou. Para garantir cobertura, serão aplicadas doses fracionadas em regiões consideradas de menos risco para a doença. Doses integrais serão reservadas para áreas de maior risco de transmissão, como as que estão próximas da mata.

A notícia das mortes, no entanto, poderá alterar a decisão previamente tomada pela secretaria de se abrir os parques estaduais, fechados por precaução desde outubro, quando foram identificadas mortes de macacos com suspeita de infecção pela doença. Inicialmente, a previsão era a de que eles reabririam neste mês. David Uip, no entanto, afirmou que uma reunião foi marcada para discutir novamente o assunto. “Vamos definir isso nos próximos dias”, observou.

O calendário oficial do fracionamento da vacina deverá ser divulgado pelo Ministério da Saúde, nesta terça feira. Além de São Paulo, deverão seguir a iniciativa os Estados da Bahia e Rio.

A aproximação de casos de febre amarela para áreas próximas da região metropolitana de São Paulo já era esperada, disse o secretário. “Tínhamos convicção de que isso iria acontecer. Estávamos monitorando a morte de primatas não humanos havia dois anos”, contou.

Nesse acompanhamento, autoridades sanitárias viram casos antes concentrados em regiões de São José do Rio Preto e Ribeirão Preto migrarem para locais próximos de Campinas, depois Jundiaí e, agora, Mairiporã. “A diferença é de que na região de São José, já havia previsão de vacinação. Uma parte da população já estava imunizada”, conta. Em áreas mais próximas da região metropolitana, a cobertura vacinal é menor, justamente porque a região não era considerada de risco para a doença.

Diante do aumento da demanda para vacinação, a solução encontrada foi recorrer à vacina fracionada. Ela tem em sua composição um décimo do que é usado na vacina integral. A proteção para o indivíduo é a mesma. “O que varia é a duração dessa proteção. No caso da vacina integral, é para a vida toda. Estudos mostram que a vacina fracionada é de nove anos.”

O maior desafio será a forma como a vacinação será realizada. O secretário de Saúde observou que 70% dos municípios paulistas têm menos de 30 mil habitantes e 75% da população vive em grandes municípios. “A logística tem de ser muito bem feita e o pessoal precisa estar treinado.”

Prioridade

O Estado apurou que, além da população de maior risco, a vacina integral de febre amarela será dada em pessoas que vão viajar para locais onde é exigido o certificado de imunização. Tanto a vacina integral quanto a vacina fracionada seguirão a mesma lógica de aplicação, com doses e intervalos, já determinada pelo Ministério da Saúde, de acordo com a faixa etária.

Uip atribuiu o avanço da febre amarela no Estado a desequilíbrios ecológicos. “A cidade invadiu as matas, houve uma quebra e aí as contas a pagar.”